A delação do ex-vice-presidente da Caixa Fabio Cleto traz bastidores que mostram como os trâmites com o dinheiro do trabalhador foram politicamente comprometidos e tecnicamente fragilizados por um organizado esquema de corrupção. O executivo contou que foi indicado para a Caixa pelo ex-deputado Eduardo Cunha e lá ficou de 2011 a 2015. Sua tarefa era votar conforme a orientação do padrinho no Comitê de Investimento do FI, que decide o rumo do dinheiro após o aval da área técnica. Toda terça-feira, à s 7h30, ele se reunia com Cunha para receber orientações sobre quais negócios deveria aprovar ou não – e deu detalhes das transações. Relatou ter trabalhado para viabilizar a proposta da ex-LLX, de Eike Batista, hoje Prumo LogÃstica. O projeto seria bom para o Porto Maravilha, mas tinha problemas nas garantias. Ele pessoalmente ajudou a reorganizar a proposta para que pudesse passar. A LLX recebeu R$ 750 milhões do FI – e teria rendido R$ 6 milhões em propina. A Brado LogÃstica, do Grupo ALL, foi um incômodo. Membros do comitê ligados a sindicatos queriam vetar o dinheiro porque a empresa teria pendência com funcionários demitidos. Aprovado, o grupo ligado ao esquema, segundo Cleto, ficou com 0,5% dos R$ 400 milhões liberados à Bravo. Cunha também o orientou a votar contra. Foi assim com o investimento de R$ 2,5 bilhões na Sete Brasil, empresa criada para gerenciar a construção e venda de navios sondas para o pré- sal. Segundo Cleto, a operação era muito ruim, cheia de riscos e sem garantias adequadas. Por orientação do governo, porém, deveria ser aprovada em favor da Petrobrás. Cleto diz ter recebido a ordem de votar contra, não por causa da baixa qualidade do projeto, mas porque Cunha não queria que o governo saÃsse vencedor. O Comitê votou como o governo pediu. A Sete Brasil deu R$ 1 bilhão de prejuÃzo ao FI-FGTS.