20 de maio de 2016
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Imagem Reprodução
Um time de cientistas da Universidade do Texas, nos EUA, criou clones do vírus da zika. O trabalho, primeiro do gênero, foi publicado nesta segunda-feira (16) no periódico científico Cell Host and Microbe. O clone, facilmente manipulável em laboratório, pode ajudar os cientistas a entender a ação do vírus nos organismos vivos – e colaborar para a criação de vacinas e antivirais que combatam o parasita. Para clonar o zika, o time do professor Pei-Yong Shi, o cientista líder do estudo, dividiu o vírus em cinco partes. Cinco fragmentos do genoma do zika –cinco conjuntos de letras que compõem seu DNA – foram clonados separadamente e, posteriormente, reunidos. No passo seguinte, os cientistas tentaram determinar se o clone era uma cópia fiel do original. Primeiro, ofereceram o vírus clonado a mosquitos Aedes aegypti, o vetor tradicional do zika. O vírus clonado, tal qual seu progenitor, mostrou-se capaz de sobreviver no organismo dos insetos, condição fundamental para que ele seja transmitido a outros seres-vivos. A seguir, os cientistas infectaram ratos com o zika. E verificaram que o patógeno provocava nos filhotes de roedores malformações congênitas semelhantes àquelas verificadas em humanos.
Na última quarta-feira (11), um time de cientistas brasileiros já havia publicado um trabalho que mostra esses efeitos do vírus em ratos – adicionando mais um elemento à equação que confirma a culpa do zika pelas malformações em bebês. Clonar o zika pode ajudar os cientistas a entendê-lo melhor. O vírus da zika é conhecido desde 1947, mas nunca chamou muita atenção da ciência. Ele era encarado como um vírus menos perigoso, capaz de provocar uma espécie branda de dengue. Só virou problema de saúde pública, capaz de preocupar o mundo todo, em meados de 2015 – quando passou a ser associado a casos de microcefalia. Existe a suspeita de que o zika que circula pelo Brasil é diferente daquele encontrado na África – teria sofrido uma mutação e, graças a ela, se tornado mais danoso. Começam a surgir evidências de que o vírus africano não provocava microcefalia. O trabalho dos brasileiros, publicado na semana passada, fazia essa sugestão, e levantava a hipótese de a variante brasileira do zika ter se adaptado melhor a humanos – o vírus brasileiro não provoca em macacos os mesmos efeitos que em pessoas. O vírus clonado, manipulável em laboratório, pode ajudar os cientistas a determinar por quais mudanças o zika passou para se tornar mais agressivo e adaptado a humanos. Há também a hipótese de que o zika que circula no Brasil seja mais facilmente transmitido por mosquitos que sua versão africana. Os cientistas vão poder testar essa hipótese usando o clone. A técnica também pode permitir criar uma versão do vírus que seja semelhante à variante brasileira, mas não cause microcefalia – uma característica importante para garantir a segurança durante os testes em humanos de uma possível vacina.