“A Lava Jato pegará o Poder Judiciário num segundo momento. O Judiciário está sendo preservado, como estratégia para não enfraquecer a investigação.” A previsão é de Eliana Calmon, ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça, ex-corregedora nacional de Justiça. “Muita coisa virá à tona”, diz.Ela foi alvo de duras crÃticas ao afirmar, em 2011, que havia bandidos escondidos atrás da toga. “Os polÃticos corruptos nunca temeram a Justiça e o Ministério Público. O que eles temem é a opinião pública e a mÃdia”, afirma. Como a senhora avalia a lista dos investigados a partir das delações? Não fiquei surpresa. Praticamente todos os grandes polÃticos estariam envolvidos, em razão do sistema polÃtico brasileiro, que está apodrecido. Algum nome incluÃdo na lista a surpreendeu? José Serra (PSDB-SP) e Aloysio Nunes Ferreira (ministro das Relações Exteriores, também do PSDB-SP). A Lava Jato poderá alcançar membros do Poder Judiciário? No meu entendimento, a Lava Jato tomou uma posição polÃtica. É minha opinião pessoal. Ou seja, pegou o Executivo, o Legislativo e o poder econômico, preservando o Judiciário, para não enfraquecer esse Poder. Entendo que a Lava Jato pegará o Judiciário, mas só numa fase posterior, porque muita coisa virá à tona. Os tribunais superiores têm condições de instaurar e concluir todos esses inquéritos? É possÃvel o Poder Judiciário punir a corrupção com vontade polÃtica. É difÃcil, porque tudo depende de colegiado. Muitas vezes alguém pede vista e “perde de vista”, não devolve o processo. Hoje, o Judiciário está convicto de que precisa funcionar para punir. Como deverá ser a atuação do Judiciário nos Estados com os acusados sem foro especial? Hoje, o Judiciário mudou inteiramente. Todo mundo quer acompanhar o sucesso de Sergio Moro. Os ventos começam a soprar do outro lado. Como avalia o desempenho da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia? A ministra Cármen Lúcia demonstra grande vontade. Mas vai precisar de muito jogo de cintura. O colegiado é muito complicado, muito ensimesmado. Os ministros são muito poderosos. Há muita vaidade. Há risco de um “acordão” para sobrevivência polÃtica dos