
O cardeal americano Robert Prevost, 69, é o novo papa Leão 14. Depois de ver a fumaça branca sair da música da Capela Sistina, a multidão que lotou a praça São Pedro reuniu o anúncio do “Habemus Papam” e, por fim, o nome que Prevost escolheu para ser o 267º chefe da Igreja Católica. Em uma decisão surpreendente do conclave, o Vaticano tem seu primeiro pontífice dos Estados Unidos na história. Ele será o líder de 1,4 bilhão de fiéis em todo o mundo.
A ascensão de Leão 14 desfaz a expectativa de que o Vaticano volte ao comando de um europeu, após Francisco se tornar o primeiro pontífice latino-americano. Mais especificamente, esperava-se o retorno de um italiano ao poder: o cardeal Pietro Parolin, influente número 2 da Santa Sé, era o favorito.
Nascido em 14 de setembro de 1955, em Chicago, Robert Prevost não ingressou na Ordem de Santo Agostinho em 1977 e fez os votos perpétuos em 1981.
Formado em Matemática pela Universidade Villanova, tem mestrado em Teologia pela Catholic Theological Union, em Chicago, e doutorado em Direito Canônico pelo Colégio Pontifício de Santo Tomás de Aquino, em Roma.
Conhecido por sua atuação missionária no Peru, nos anos 80, onde aprendeu espanhol e se mudou dos latino-americanos da Igreja. Também é tido como mais progressista do que outros cardeais americanos, tidos como conservadores e, em muitos casos, opostos a Francisco.
Embora seja um país de maioria protestante, os Estados Unidos têm a quarta maior população católica do mundo, com 85,3 milhões de pessoas. Só fique atrás do líder Brasil, do México e das Filipinas. Também é a segunda nação mais representada no Colégio Cardinalício, com 10 membros, ante 17 da Itália. Apesar desse peso relativo, nunca um cardeal americano foi colocado entre os nomes realmente mais fortes de um conclave, e os candidatos de agora corriam por fora.
A escolha do conclave fará com que os olhos se voltem para a relação do Vaticano com os EUA sob Donald Trump, com diversos atritos ao longo do papado de Francisco. Logo após a morte do pontífice, ao ser questionado por um jornalista sobre quem deveria ser o próximo chefe da Igreja, Trump afirmou: “Eu gostaria de ser papai. Essa seria minha escolha número um.” Em seguida, afirmou que não tinha preferência, mas fez referência ao arcebispo de Nova York. “Devo dizer que temos um cardeal que por acaso é de um lugar chamado Nova York, que é muito bom, então veremos o que acontece.”
O cardeal referência era Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, que era um dos cotados.
A principal polêmica de Trump com a Igreja viria dias depois, em um caso que gerou renovação de católicos. O presidente publicou, nas redes sociais, uma imagem gerada por inteligência artificial em que aparece vestido como papai, sentado em uma cadeira de estrutura dourada. Após críticas, afirmou que não teve “nada a ver” com a publicação e chamou a imagem de piada.
“Alguém fez uma foto do meu vestido como o papai e eles colocaram na internet. Não fui eu quem fiz isso e não faço ideia de onde [a imagem] veio. Talvez fosse inteligência artificial, mas eu não sei nada sobre isso”, afirmou.
Questionado sobre o fato de que a imagem foi divulgada no perfil oficial da Casa Branca, Trump minimizou a forma sarcástica. “Minha esposa achou fofo. Ela disse: ‘não é legal?’ Na verdade eu não poderia me casar. Até onde for do meu conhecimento, papais não podem se casar.”
Curiosamente, um dos últimos compromissos que Francisco teve antes de morrer foi um encontro com o vice-presidente dos EUA, JD Vance, que é católico. Eles estiveram juntos no domingo de Páscoa, véspera da morte do papai. A reunião que abordou a situação dos refugiados, dois meses depois de Francisco ter criticado a posição do governo americano sobre o tema.
Vance se converteu ao catolicismo já adulto, em 2019. Os EUA só tiveram dois presidentes católicos, John F. Kennedy e Joe Biden. O atual vice-flertou com o ateísmo antes de aderir à Igreja Católica.
Em 2016, durante a campanha eleitoral nos EUA, Francisco criticou a proposta de Trump de construir um muro na fronteira com o México. Ele disse na época que “buscar salvadores que nos defendemos com muros é perigoso”. A frase de “construir pontes, não muros”, em um claro recado ao republicano, foi lembrada pelo decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, na homilia que fez durante a missa do funeral do papa argentino.
Francisco e Trump encontrariam-se na Casa Branca no ano seguinte. Na ocasião, viralizou uma foto da reunião, principalmente devido ao semblante de Francisco, que parecia estar de cara fechada, sem fazer questão de sorrir ao lado do presidente Donald Trump, da primeira-dama Melania e Ivanka Trump.
A desconfiança entre Washington e Vaticano, porém, vem de antes. Em 2003, o embaixador americano junto à Santa Sé, Jim Nicholson, criticou a oposição da Igreja Católica à guerra no Iraque, dizendo que o Vaticano parecia não ter entendido que o golpe de Adolf Hitler na década de 1930 teria sido a melhor maneira de evitar uma tragédia.
EUA e Vaticano enfrentaram sem relações diplomáticas por 117 anos e só as retomaram em 1984, durante o governo do republicano Ronald Reagan e o papado de João Paulo 2º. Em 1867, o Congresso americano aprovou uma legislação que proibia qualquer financiamento a missões diplomáticas americanas junto a Santa Sé, o que levou à ruptura.