A fumaça incolor que sai da chaminé do Palácio de Ondina, por Raul Monteiro

O ditado segundo o qual onde há fumaça há fogo foi aplicado como uma luva às especulações sobre a montagem da chapa governamental para as eleições de 2026 na Bahia. Se não houvesse alguma desconfiança em relação às reais chances de reeleição do governador Jerônimo Rodrigues (PT), devido ao crescimento da desaprovação ao seu governo ou mesmo à alegada dificuldade do petista de coordená-lo, certamente não prosperariam os rumores de que ele poderia ser substituído, a qualquer tempo, pelo ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, na corrida sucessória do próximo ano.

Basta ver que, no longo período em que o PT comandou o Estado, de quase 20 anos, é a primeira vez que se manifestou o aparecimento, do que passou ao largo tanto o hoje senador Jaques Wagner quanto Rui, quando – o segundo sucedendo o primeiro -, governaram a Bahia. Mesmo sob os solavancos do mandato inicial, onde a falta de experiência cobrou um preço alto e forças aliadas, notadamente o MDB, buscaram miná-lo por dentro aproveitando-se de suas fragilidades, Wagner jamais viu o direito natural de disputar a reeleição alvo de especulações em seu próprio partido, como ocorre agora com Jerônimo.

Sobre o hoje ministro, então, que viraria uma referência gerencial para o PT na Bahia e nacionalmente, não há registros de que tenha corrido o mesmo risco nem visto algum outro quadro, como Wagner, por exemplo, sendo lembrado para retornar e cortar-lhe o direito à sucessão. A explicação para isso não é apenas a de que ambos chegaram bem às portas dos pleitos em que se reelegeram, mas principalmente porque enfrentaram as disputas amparadas pela imagem de que davam as cartas em suas respectivas administrações, condição para a qual contribuíram essencialmente o fato de terem escolhido Casas Civis fortes.

Liderança essencialmente política, com a qual neste aspecto Jerônimo se assemelha muito, Wagner deu atenção especial à posição, para a qual, no momento certo, nomeou Rui. Afeito às tarefas da área, o auxiliar se tornaria o principal representante da pasta em seu próprio governo, para que levasse a experiência pessoal bem sucedida na gestão de Wagner. Antes de hoje ministro ter gerenciado o governo do primeiro governador petista da Bahia, Eva Chiavon desincumbiu-se bem no mesmo papel. Nem ela e muito menos Rui podem ser comparados ao arremedo da Casa Civil com que Jerônimo conta hoje no governo.

Por causa da acefalia da pasta, problemas se acumularam na Chefia de Gabinete, onde não se fala português e muito menos ‘baiano’, na Cerb, na Seinfra e em várias outras partes do governo sem perspectiva de solução à vista, embalando o sonho dos ruististas de verem o chefe retornando ao comando do governo em eleições justas e livres, teorias a respeito da qual, apesar da mesma preocupação com os rumores da administração estadual e do risco de uma falência eleitoral do grupo, os wagneristas não aceitam converse nem em mesa de bar. Como se não bastasse, Jerônimo ainda tem que administrar as disputas entre os dois Senhores.

  • Texto do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

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