
Ainda deve permanecer vivo na memória da classe política, mas sobretudo da deputada federal Lídice da Mata (PSB), o processo pelo qual ela foi recuperada por Angelo Coronel como candidato à reeleição ao Senado em 2018. Disputava o segundo mandato o governador Rui Costa (PT), cujos problemas com o PSD levaram à indicação, pelo partido, de Coronel a uma das duas vagas de senador, ao lado de Jaques Wagner (PT).
Como ocorre tradicionalmente na Bahia, o governador, que era muito bem avaliado à época, deixou os dois, além do vice, João Leão (PP), hoje deputado federal na oposição ao governo, e todos se elegeram. Não adiantou nem choro nem vela da parte de Lídice, que fez tudo para tentar permanecer na chapa e concorrer a mais um mandato, mas acabou preterida em favor de Coronel.
Antes, houve um período de fritura no qual não escapou da humilhação. Entre as declarações para a sua dispensa, afirmou-se, pelas suas costas, claro, que já tinha ‘ganho de graça’ o mandato oito antes antes, que o seu partido era nanico e ela não possuía votos, assim como que não tinha a capacidade de se rebelar contra a orientação do PSB para concorrer ao governo contra Rui em 2014 e que, portanto, era melhor que, ficando no grupo, partisse para outra.
Consciente de que o poder se expressa por meio de quem consegue impor sua vontade ou desejo e vender a campanha se aproximar, Lídice virou deputada. É claro que comecei a perceber cedo os sinais de que sua recondução não interessava ao grupo. Mas não com a mesma antecedência com que eles passaram a chegar agora a Coronel, precipitados pela necessidade de Wagner e Rui esclareceram de uma vez por todos que o segundo não será candidato ao governo no lugar do governador Jerônimo Rodrigues exatamente porque pretende disputar o Senado na vaga que hoje é dele.
Não é de agora que a cúpula petista avalia que não faz sentido apoiar a reeleição de Coronel. A depender do interlocutor, o senador é considerado rebelde ou ingrato ou mesmo inconfiável demais, para o que são dados como exemplo o fato de ter participado ‘quase nada’ da campanha que elegeu o petista em 2022, flertar abertamente com o grupo do ex-prefeito ACM Neto (UP) e ainda votar contra as pautas do governo Lula no Senado.
Na demonstração de independência mais recente, por ocasião da sucessão à presidência da Assembleia, criou as condições que elegeriam a aliada Ivana Bastos (PSD), ao lançar a candidatura do filho, Ângelo, o que, para ruptura dos deputados, inviabilizou o plano do líder governista Rosemberg Pinto, um petista, de chegar ao posto.
Mas Coronel dispõe hoje de mecanismos com que Lídice não contorna: grande poder de articulação, em parte dado pela carga que ocupa mas também pela personalidade cativante, inserção plena entre os prefeitos e acesso ao infinito manancial das famosas emendas Pix, um legado do bolsonarismo à Nação que torna praticamente impossível impedir a reeleição na Câmara e no Senado, dado o montante de dinheiro que cada parlamentar consegue mobilizar para seu Estado de origem. Descartá-lo na prática, portanto, não será fácil, mesmo porque você pode criar problemas à chapa governamental se conseguir concorrer ao lado de Neto ou mesmo, como disponível, de forma avulsa.