
As recentes movimentações políticas em Brasília fortalecem o posicionamento do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) como candidato ao Palácio de Ondina em 2026, na mesma medida em que tirou a musculatura partidára do governador Jerônimo Rodrigues (PT), postulante à reeleição. Ou seja, o contexto é o oposto ao de 2022, quando o cenário nacional foi uma espécie de “calcanhar de Aquiles” do oposicionista.
Exemplo disso é a federação anunciada pela União Brasil e o PP, que inviabiliza a adesão institucional dos pepistas à base de Jerônimo, pois caberá ao primeiro partido o comando na Bahia, por ter ACM Neto como vice-presidente nacional e mais deputados federais. Outras dificuldades em Brasília que podem ter a mesma consequência na Bahia estão em curso.
A mais significativa delas é a negociação entre o MDB e os Republicanos para a formação de uma outra federação. O objetivo do “casamento” é o mesmo do firmado entre União Brasil e PP: a criação de uma bancada poderosa no Congresso Nacional, doa a quem faz nos estados. A decisão é de cima para baixo.
Ao contrário do PP, que apoiou oficialmente ACM Neto em 2022, o MDB caminhou com Jerônimo, e tem como filiado o vice-governador Geraldo Júnior, que deseja ser desligado na chapa em 2026. Já os Republicanos estão na oposição na Bahia. Ambos já disputaram quem vai liderar a união na Bahia, caso ela ocorra.
Os Republicanos, sigla ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, alega a seu favor que tem mais deputados federais (três contra um), enquanto o MDB, há décadas sob o controle dos irmãos Vieira Lima na Bahia, defende que a aliança estadual com o PT, avalizada pela direção nacional da legenda em 2022, seja o fator decisivo.
Questão de sobrevivência
Vale lembrar que quando ocorre uma federação, os partidos começam a existir individualmente, entretanto precisam atuar como um só durante o período de quatro anos. É o que tem feito o PT, PCdoB e PV, que formaram em 2022 a Federação Brasil da Esperança. Assim, para efeito eleitoral, o que prevalece é a decisão de quem comanda essa união, seja na definição de apoios ou formação de chapas. É diferente da fusão, quando surge uma nova agregação – é o que pretendem fazer o PSDB e o Podemos.
Nesse caso, o objetivo dos dois partidos é muito mais uma política de sobrevivência do que o fortalecimento no Congresso. Sem um acordo desse tipo, o PSDB, que já foi um dos maiores partidos do país, corre o risco de colapso do mapa político brasileiro ou de encolher ainda mais. E as conversas também podem afetar a Bahia, onde as duas siglas estão em campos opostos no momento.
O Podemos é aliado do governador, enquanto os tucanos estão com ACM Neto. Claro, os dois partidos disputam quem vai comandar a nova legenda na Bahia. O primeiro propôs um acordo: ficar na presidência estadual, deixando o PSDB no comando em Salvador. Ou seja, em 2026 o apoio oficial seria dado à reeleição de Jerônimo, enquanto em 2028, o sucessor do prefeito Bruno Reis (União). Nas duas eleições, as lideranças ficariam livres para escolher quem apoiar de maneira extraoficial. Os tucanos não aceitaram.
Ausência de Bolsonaro
Nas eleições de 2022, ACM Neto ficou neutro na corrida presidencial polarizada entre o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o antecessor, Jair Bolsonaro (PL). A estratégia teve como objetivo não ser contaminada pela alta contaminação de Bolsonaro na Bahia e, ao mesmo tempo, não apoiar um petista no plano nacional. Em 2026, sem o ex-presidente na disputa por decisão judicial, o líder da oposição baiana já disse que terá uma postura diferente .
O União Brasil lançou, em abril, em Salvador, a pré-candidatura presidencial do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. ACM Neto participou do evento. O ex-prefeito defende, no entanto, que os partidos de direita e de centro se unem numa candidatura única contra o PT. E um dos nomes cotados com entusiasmo por ACM Neto e outras lideranças da mesma sigla para a corrida ao Palácio do Planalto é o governador de São, Tarcísio de Freitas (Rspublicanos).
Uma eventual candidatura de Tarcísio poderia ajudar ainda mais o ex-prefeito de Salvador no plano estadual. Isso porque um dos principais fiadores desse movimento é o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, secretário de Relações Institucionais do governo de São Paulo. Na Bahia, o PSD é o principal aliado do PT, e a questão que surge é como ficaria o posicionamento da legenda no Estado diante do desejo de Kassab de ter o apoio da União Brasil de ACM Neto ao projeto presidencial do governador paulista.
Presidente estadual do PSD, o senador Otto Alencar, cujo nome é cotado para vice de Tarcísio, costuma dizer que nada muda na Bahia, independentemente do que ocorrer no plano nacional. Já o outro senador do PSD baiano, Ângelo Coronel, se aproxima mais da oposição na medida em que tem a candidatura à reeleição descartada na chapa liderada pelos petistas.