
Uma fala do vereador Vanderley Bastos Miranda, o “Boca”, gerou indignação em Brumado e reacendeu o debate sobre machismo e ética na política local. Durante a sessão da Câmara desta segunda (14), o parlamentar usou a tribuna para rebater críticas da moradora Marina Trindade com insinuações machistas. Segundo Marina, o estopim foi um comentário dela em um grupo de WhatsApp, onde sugeriu que o vereador estaria no fim de seu ciclo político.
Na sessão, o vereador teria respondido que ela “deveria procurar uma trouxa de roupa para lavar”. A frase vista como machista e ofensiva. Indignada, Marina publicou nesta terça (15) uma carta aberta cobrando respeito, preparo emocional e ética de quem ocupa cargo público. Na carta, ela afirma que sua crítica foi respeitosa, sem ataques pessoais, e que a reação do vereador demonstra vaidade e desequilíbrio. Entidades ligadas aos direitos das mulheres reagiram e já articulam protesto na Câmara pedindo retratação pública e medidas institucionais.
A fala de “Boca” pode configurar violência política de gênero, conforme a Lei nº 14.192/2021, que combate ofensas contra mulheres na política. Até o momento, a presidência da Câmara de Brumado não se pronunciou oficialmente sobre o caso nem sinalizou se haverá apuração formal.
CARTA PÚBLICA AO VEREADOR VANDERLEY BOCA
Brumado, 15 de julho de 2025
Venho a público manifestar minha indignação diante de um episódio lamentável ocorrido na sessão do dia 14 de julho de 2025 na Câmara de Vereadores de Brumado, protagonizado pelo vereador Wanderley Boca, conhecido politicamente como “Boca”.
Tudo teve início com um comentário que fiz em um grupo de WhatsApp, no qual apenas opinei que, por estar em seu segundo mandato, talvez este fosse o seu último ciclo político. Acrescentei ainda que, por ter formação e qualificação profissional, ele poderia retornar ao seu cargo de origem como agente de saúde. Trata-se de uma opinião pessoal, expressa em ambiente privado, sem ofensas, sem ataques, sem desrespeito.
No entanto, de forma desproporcional e lamentável, o vereador decidiu me atacar publicamente usando a tribuna da Câmara — espaço que deveria ser destinado ao debate sério e responsável — para me ridicularizar diante de toda a cidade, com insinuações ofensivas e machistas, sugerindo que eu deveria “procurar uma trouxa de roupa para lavar”. Um comentário carregado de preconceito e totalmente inadequado para alguém que ocupa um cargo público.
Senhor vereador, o senhor é uma figura pública. Isso significa que críticas fazem parte da função que o senhor exerce e devem ser encaradas com equilíbrio e maturidade. A população tem o direito — e o dever — de fiscalizar, opinar e participar da vida política da cidade. Lamentavelmente, sua reação demonstra despreparo emocional e uma confusão perigosa entre o poder que lhe foi concedido pelo voto e a vaidade pessoal.
Sou mãe, trabalhadora, dona de casa, cidadã ativa e conhecida na cidade por contribuir de forma honesta com a comunidade, mesmo sem ocupar cargo público. Diferente do senhor, que tem o dever constitucional de representar o povo, jamais usei espaço público para atacar ou diminuir alguém.
Brumado precisa de vereadores atentos às demandas reais da população: saúde, educação, segurança, infraestrutura, geração de emprego. Gastar tempo e energia reagindo a comentários de grupo de WhatsApp, ainda mais com ataques pessoais, não faz parte das atribuições de um representante do povo. Isso, vereador, é um desvio do que realmente importa.
A sua fala não me envergonha. Pelo contrário: revela, infelizmente, o quanto ainda precisamos avançar em respeito, ética e maturidade no ambiente político. O que o senhor fez mancha a cadeira que ocupa e enfraquece a imagem do legislativo municipal.
Respeito se conquista com atitudes — não com microfone.
E por fim, ao contrário do seu slogan, vereador, Brumado fala, sim — fala com coragem, fala com consciência e fala mesmo sem Boca.
Marina Trindade