
Ameaça de novas tarifas dos EUA pode frear avanço das exportações brasileiras de alta tecnologia, alerta estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pesquisadores do Observatório do Desenvolvimento da UFMG identificaram uma retomada das exportações de bens tecnológicos desde 2020. Levantamento aponta que produtos de média e alta tecnologia cresceram 27,8% e 25%, respectivamente, entre 2020 e 2024. Estudo mostra reversão da queda registrada entre 2016 e 2020, período marcado pela reprimarização e queda da complexidade da pauta exportadora.
Apesar do avanço, produtos primários ainda dominam: representaram mais de 70% do total exportado em 2024, segundo a UFMG. O tarifaço prometido por Donald Trump, previsto para 1º de agosto, ameaça setores estratégicos como aviação e máquinas. Os EUA concentram 63% das exportações brasileiras de aeronaves e 28% das de máquinas, itens de alta e média tecnologia. Para o professor João Prates Romero, o Brasil deve adotar políticas compensatórias se as sobretaxas forem implementadas. Representantes americanos sinalizaram interesse em minerais estratégicos e possível exceção a ferro-liga e produtos semiacabados. No entanto, tais exceções vão na contramão da desejada diversificação e agregação de valor às exportações brasileiras.
Romero defende que o país aproveite a atual janela de oportunidade para redefinir sua inserção produtiva no cenário global. Dados apontam queda de 67% na exportação de madeira bruta e 55% na de ouro nos primeiros anos do governo Lula. Estudo também aponta crescimento expressivo nas vendas de navios, embarcações, máquinas elétricas e caldeiras. Por outro lado, setores como indústria química, bens de capital e máquinas de escritório registraram retração acentuada.
Produtos como reboques, contadores e medidores tiveram quedas de até 65%, evidenciando fragilidade estrutural em parte do setor tecnológico. Especialistas alertam ainda que mudanças nas regras de licenciamento ambiental podem afetar negativamente os ganhos sustentáveis. Pesquisas mostram que avanços na preservação ambiental têm reflexo direto na imagem e desempenho das exportações brasileiras. Para a UFMG, o momento exige cautela diplomática, firmeza nas negociações e fortalecimento da política industrial brasileira.