Decisão de Moraes unifica a direita e gera desconforto no Planalto

A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada por Alexandre de Moraes, foi recebida com apoio oficial, mas gerou incômodo dentro do governo Lula. Nos bastidores, auxiliares do presidente admitem que o ato do ministro do STF reacendeu a chama do bolsonarismo em um momento politicamente desfavorável à direita.

Integrantes do Planalto reconhecem que, até então, aliados de Bolsonaro enfrentavam cobranças por tarifas dos EUA, herdadas do governo Trump. No entanto, com a decisão de Moraes, o ex-presidente passou de alvo político a símbolo de perseguição, criando terreno fértil para vitimização.

A mudança de foco foi rápida. Políticos do centrão, como Gilberto Kassab, declararam solidariedade ao ex-presidente, algo impensável dias antes. Mesmo parlamentares críticos ao bolsonarismo passaram a criticar o “excesso” da medida, avaliando a prisão como desproporcional e provocativa. Segundo o STF, Bolsonaro violou medidas cautelares ao enviar vídeo gravado para manifestação no Rio, contrariando proibição de usar redes e falar ao público.

A interpretação de Moraes foi de que o gesto violava a decisão judicial e configurava incitação contra as instituições o que justificaria a prisão. Dentro do Planalto, no entanto, cresce a avaliação de que o ministro agiu de maneira precipitada, oferecendo munição política gratuita à oposição. A desconfiança é que o magistrado caiu em uma armadilha bolsonarista. O discurso foi pensado para provocar a medida e inflamar a base radical.

Fontes do governo acreditam que Bolsonaro quis exatamente esse efeito: ser preso para gerar comoção, reocupar o centro do debate e forçar o erro do STF. Pior, a prisão ocorreu logo após novas revelações sobre a trama golpista, o que poderia ser capitalizado pelo Judiciário como prova de rigor institucional. Em vez disso, Moraes optou por puni-lo por uma gravação de vídeo, e não por atos mais graves já em investigação, diluindo o impacto da narrativa jurídica.

O gesto, para muitos, pareceu mais político que técnico, o que fragiliza a imagem do Supremo e dá fôlego à retórica de perseguição usada por Bolsonaro. Apesar disso, o governo mantém discurso público de apoio irrestrito ao ministro e defesa da soberania do Judiciário ao menos, oficialmente. Internamente, assessores de Lula pedem cautela. Temem que uma crise institucional seja confundida com ingerência política, o que poderia desgastar o Planalto. Em nota, o presidente rechaçou qualquer contaminação política nas relações com os EUA e defendeu o cumprimento das leis.

Mesmo assim, o estrago já está feito. O bolsonarismo, que enfrentava desgaste e divisões internas, agora tem um novo ponto de convergência. Para aliados de Lula, o maior risco não é Bolsonaro em prisão domiciliar, mas sim a reconfiguração de forças em torno dele, impulsionada por decisões como esta. Moraes, ao agir com rigor, pode ter oferecido ao adversário político exatamente o que ele queria, protagonismo, discurso e um novo palanque.

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