
O jornal O Estado de S. Paulo demitiu o fotógrafo Alex Silva, autor da imagem que flagrou o ministro Alexandre de Moraes fazendo gesto obsceno a torcedores. A foto foi registrada na Neo Química Arena, durante o clássico Corinthians x Palmeiras, pelas oitavas da Copa do Brasil, em 30 de julho. Moraes é torcedor do Timão.
Silva, com 23 anos de casa e especialista em cobertura esportiva, estava credenciado e relatou ter recebido aviso do editor sobre a presença do ministro no estádio. Durante o aquecimento dos jogadores, ao enquadrar Moraes, registrou o momento exato em que o magistrado reagiu a vaias com o dedo do meio. A imagem viralizou.
Apesar da repercussão, o fotógrafo afirmou que o jornal escondeu a foto. Disse que a imagem teve pouco destaque, e que isso gerou um desconforto na redação. Segundo Silva, sua demissão foi comunicada sem justificativa técnica. “Disseram que era decisão do RH. Não questionaram meu trabalho. Apenas me mandaram embora.”
O Estadão alegou em nota que a demissão já estava planejada por “motivos administrativos”, e que a foto teve “relevância jornalística e destaque na home do site”. Mesmo assim, a demissão, poucos dias após a repercussão da imagem, levanta suspeitas legítimas sobre autocensura e medo de enfrentar o poder judicial.
Em vez de defender seu fotógrafo e valorizar o furo jornalístico, o veículo optou pelo silêncio e pelo desligamento sumário, em um gesto que cheira à covardia editorial. Silenciar profissionais que registram fatos de interesse público atenta contra o próprio jornalismo. A verdade deve ser protegida, não abafada por conveniência.
A atitude do jornal envia um recado perigoso: quando o poder se sente incomodado, a imprensa deve recuar. Isso destrói a essência do trabalho jornalístico livre. A missão da imprensa é incomodar, não agradar. E quando um fotógrafo é punido por mostrar a realidade, o que está em jogo é a liberdade de todos os profissionais. Neste episódio, quem saiu menor não foi o fotógrafo. Foi o Estadão, que, diante da verdade captada pela lente de seu profissional, optou por fechar os olhos.