
Aos 90 anos, Manoel Freires prova que nunca é tarde para começar. Natural da zona rural de Boa Nova, ele encontrou na escrita um novo caminho. Desde a infância, a leitura esteve presente. O hábito nasceu do incentivo do avô, homem que prezava pela educação e tinha influência política.
Ainda adolescente, Manoel viveu em Vitória da Conquista e Mirante, cidades que, junto a Boa Nova, ele chama de seu “torrão natal”. Como muitos nordestinos, migrou para São Paulo. Passou 20 anos na capital paulista, onde estudou e fez cursos por correspondência.
Em 1979, Manoel ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Poções. A iniciativa buscava dar voz aos agricultores da região. O sindicato nasceu da mobilização de pequenos produtores. A ideia ganhou apoio do então prefeito Pedro Cunha e se consolidou aos poucos.
As dificuldades eram muitas. Produções agrícolas eram perdidas, faltava transporte e o acesso a serviços de saúde era precário. Com organização, os trabalhadores conquistaram avanços. O sindicato cresceu e hoje é referência entre os mais estruturados do sudoeste baiano.
A paixão pela literatura, no entanto, nunca ficou de lado. Desde cedo, Manoel sonhava em escrever livros e criar histórias. Entre suas inspirações estão Castro Alves, Machado de Assis, Olavo Bilac e Jorge Amado, de quem admira a força da cultura baiana.
No início, a escrita surgiu pelo jornalismo. Em 2006, Manoel lançou o “Boca no Trombone”, um impresso voltado para notícias regionais. O jornal durou alguns anos. Depois, ele decidiu dedicar-se a narrativas populares, trazendo personagens típicos do cotidiano nordestino.
Em 2014, lançou seu primeiro livro: Neco Boa Vida e Quinca Curador. A obra retrata um boêmio preguiçoso e um curandeiro charlatão. Logo depois, publicou Calisto Vassoura: um político maquiavélico. A narrativa satiriza a corrupção de um cabo eleitoral da antiga UDN.
As obras misturam crítica social e humor popular. Manoel afirma que escreve com linguagem acessível, para dialogar com todos os públicos. Em julho de 2025, lançou O mundo terra, a natureza e o homem. O livro alerta sobre poluição, desmatamento e mudanças climáticas.
A obra chega às vésperas da COP 30, em Belém. Manoel diz esperar que líderes mundiais adotem medidas concretas além dos discursos. Hoje, ele já soma quatro livros publicados de forma independente. Sem editora, conta com apoio dos leitores para manter seus projetos.
Aos 90 anos, Manoel não esconde o desejo de escrever mais. Afirma que se sente realizado e grato por ter seguido a paixão pela literatura. “Tem dias felizes, outros difíceis, mas sigo agradecendo por estar vivo e são. Não tenho arrependimento de ter vindo ao mundo”, diz.