
Uma apreensão feita na Bahia acabou se tornando peça-chave para revelar um esquema internacional de armas com ramificações na política do Rio de Janeiro. Investigação começou em novembro de 2020, quando a Polícia Rodoviária Federal (PRF) encontrou 23 pistolas croatas dentro de um ônibus de turismo na BR-116, em Vitória da Conquista.
Descoberta acendeu um alerta na Polícia Federal. Em pouco mais de um ano, cerca de cem armas iguais apareceram em apreensões feitas em vários estados. Peritos conseguiram recuperar números de série e rastrear a origem até a empresa International Auto Supply (IAS), no Paraguai. A partir daí, a PF quebrou sigilos, analisou documentos e identificou um esquema que envolvia importações simuladas, números raspados e corrupção dentro da Dimabel, órgão responsável pelo controle de armas no país vizinho.
A Bahia, onde tudo começou, se tornou um dos pontos de partida para desbaratar a quadrilha. A investigação levou à Operação Dakovo, em 2023, que mirou militares paraguaios e o empresário Diego Hernan Dirísio, apontado como o maior contrabandista de armas da região.
As apurações revelaram que facções brasileiras abasteciam seus arsenais com as armas enviadas pelo esquema. Entre os compradores estavam líderes do Comando Vermelho, como “Professor”, do Complexo do Alemão, e “Índio”, chefe do tráfico em Duque de Caxias.
Conversas extraídas de celulares ampliaram o caso e mostraram aproximação do crime organizado com figuras da política fluminense. Polícia Federal identificou trocas de mensagens envolvendo o deputado estadual TH Joias, além de um ex-secretário e um secretário do governo do Rio. Os diálogos sugerem interferência no policiamento, propina, pedidos de “apoio político” e até negociação para recuperar veículos roubados.
Fase mais recente da investigação levou à Operação Zargun, que prendeu “Índio”, TH Joias e outros envolvidos. A Polícia Federal continua analisando documentos para entender a profundidade da infiltração do Comando Vermelho em estruturas públicas, um esquema que ganhou luz graças a uma apreensão feita em Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, e hoje revela conexões que atravessam fronteiras e gabinetes.