
Cenário eleitoral começa a se redesenhar após o senador Flávio Bolsonaro se colocar como herdeiro direto do bolsonarismo. O gesto sinaliza a repetição do embate com Lula em 2026, reacendendo em parte do eleitorado o desejo por uma terceira via que rompa a polarização política que domina o país desde 2018.
Movimento ganha corpo com diferentes frentes. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, surge como nome preferido do centrão. Paralelamente, o PSDB, sob comando de Aécio Neves, tenta articular uma candidatura de centro-direita, enquanto o MBL lança o partido Missão e abre espaço até para um possível outsider.
Avaliação de cientistas políticos, porém, aponta obstáculos relevantes. Mesmo com sinais de desgaste da polarização, especialistas consideram improvável o avanço da terceira via. O peso eleitoral de Lula e a influência de Bolsonaro, mesmo fora do jogo institucional, continuam determinantes para o desenho da disputa presidencial.
Discurso tucano tenta reagir à perda de protagonismo. Aécio defende um chamado nacional contra lulismo e bolsonarismo, mas reconhece dificuldades após o encolhimento do PSDB, que hoje tem bancada reduzida e identidade fragilizada. Ainda assim, ele sustenta que o partido passou por uma “lipoaspiração” e busca se reposicionar.
Articulação à direita inclui governadores e partidos que tentam se afastar do bolsonarismo sem romper totalmente com sua base. Tarcísio admite a possibilidade de múltiplas candidaturas no campo conservador, enquanto o PP avalia se sentir mais livre para apoiar um nome não ligado à família Bolsonaro.
Pesquisa recente da Quaest reforça o dilema. O levantamento mostra que 24% do eleitorado prefere um candidato distante tanto de Lula quanto de Bolsonaro. Apesar da demanda, lideranças partidárias veem risco na aposta em um outsider, figura que costuma surgir quando há forte fragilização das lideranças tradicionais.
Análise acadêmica aponta limites claros. Para o cientista político Leonardo Belinelli, o momento favorável de Lula e o capital político de Bolsonaro dificultam uma alternativa viável. Segundo ele, a direita ainda precisa dialogar com o bolsonarismo para ter competitividade real nas urnas.
Histórico recente reforça a tese. O fenômeno outsider ganhou força em 2018, num contexto de crise institucional profunda. Desde então, candidatos que se apresentaram como “antissistema” acabaram se integrando à lógica política tradicional, quase sempre fora do campo da esquerda.
Risco final recai sobre a própria oposição. Para analistas, a fragmentação da direita pode favorecer diretamente Lula em 2026. Sem unidade, a terceira via corre o risco de repetir fracassos recentes e seguir como desejo do eleitorado, mas sem força suficiente para se transformar em realidade eleitoral.