
Grandes empresários passaram a expressar publicamente preocupação com a reputação do Supremo Tribunal Federal após o escândalo envolvendo o Banco Master, que resultou na liquidação da instituição, em novembro, e na prisão do controlador Daniel Vorcaro por 12 dias. No setor privado, cresce a avaliação de que os episódios recentes afetam a confiança institucional.
O nível de alerta aumentou após a revelação de que a esposa do ministro Alexandre de Moraes manteve um contrato de R$ 129 milhões com o banco controlado por Vorcaro. A apreensão se intensificou com a notícia de que o magistrado teria tratado de temas de interesse do Master com o Banco Central, versão negada pelo ministro.
Também causaram reação negativa entre empresários atitudes atribuídas ao ministro Dias Toffoli. Ele viajou em um jatinho para assistir a um jogo do Palmeiras no Peru na companhia do advogado de um diretor do banco e, posteriormente, determinou sigilo sobre o caso, o que ampliou questionamentos sobre transparência.
Na avaliação predominante do empresariado, sinais desse tipo fragilizam a credibilidade do Supremo e alimentam a percepção de insegurança jurídica. Segundo relatos, o cenário dificulta a atração de investimentos, ao gerar dúvidas sobre previsibilidade institucional e a separação entre interesses privados e decisões públicas.
Diante do contexto, um manifesto lançado em 16 de dezembro defendeu a criação de um código de conduta para ministros do STF. O documento foi assinado por nomes de peso, como Armínio Fraga, Salim e Eugênio Mattar, Antonio Luiz Seabra, Guilherme Leal, Jayme Garfinkel, José Olympio Pereira e Marco Stefanini.
Para Fabio Barbosa, ex-presidente do Santander e da Febraban, preservar a reputação da Corte é essencial. Ele afirmou que não se trata apenas de ética formal, mas de transparência nas atitudes dos ministros, como forma de recuperar o respeito e a credibilidade do STF perante a sociedade.
Já o banqueiro Ricardo Lacerda, fundador do BR Partners, saiu em defesa do Banco Central. Segundo ele, o BC sempre atuou como órgão técnico e resistente a pressões indevidas. Para Lacerda, causa perplexidade que ministros do Supremo criem constrangimentos a servidores que cumprem funções institucionais.
Além das denúncias, Toffoli convocou Vorcaro, o ex-presidente do BRB Paulo Henrique Costa e o diretor de fiscalização do BC Ailton de Aquino para uma acareação em 30 de dezembro, durante o recesso do Judiciário. A medida contrariou integrantes do Banco Central e não partiu de pedido dos investigadores.
Ex-diretor do BC, Luiz Fernando Figueiredo afirmou enxergar uma reação mais ampla da sociedade civil. Para ele, os episódios recentes afrontam o cargo ocupado pelos ministros e contrastam com regras rígidas que, segundo diz, sempre pautaram a relação entre o setor público e o sistema financeiro.
O ex-banqueiro e fundador do Partido Novo, João Amoêdo, foi além e sugeriu o afastamento temporário de Alexandre de Moraes. Segundo ele, diante do contrato milionário envolvendo o escritório da esposa do ministro, caberia ao magistrado esclarecer os fatos antes de permanecer atuando no Supremo.
Por outro lado, o empresário Lawrence Pih avaliou que o episódio pode gerar efeitos políticos. Para ele, as críticas a Moraes interessam à direita e podem refletir negativamente na campanha de reeleição do presidente Lula em 2026, dado o papel do ministro na defesa da democracia.
Segundo Pih, Moraes enviou uma mensagem clara de que eventuais tentativas de ruptura institucional terão resposta firme do STF. Ele defendeu cautela no julgamento do caso e disse que é necessário apurar também as conexões políticas de Daniel Vorcaro antes de conclusões definitivas.