
Uma articulação mal encaminhada pelo Palácio do Planalto abriu uma crise sem precedentes entre Lula e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). A escolha de Jorge Messias para o STF irritou profundamente o senador, que queria ver Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na vaga. Senadores afirmam que “nunca viram Alcolumbre tão possesso”. Ele circulou pelo Congresso nesta sexta (21) com a veia do pescoço saltada, segundo relatos, repetindo que se sente traído pelo governo.
Aliados próximos descrevem o clima como hostil. A avaliação é de que o Planalto subestimou a força política do presidente do Senado, que agora mira um revés histórico contra Lula. Outro parlamentar relatou que Alcolumbre está “virado no Satanás” e disposto a declarar rompimento total caso o governo pressione pela aprovação de Messias. Promessa foi reforçada em ligações feitas para opositores do presidente.
Bolsonaristas receberam recado direto: “Só perco se vocês me traírem”. Ele tenta unir toda a oposição para impor a primeira derrota a um presidente na indicação ao STF em 131 anos. A última ocorreu em 1894, no governo Floriano Peixoto. Clima esquentou. Senador diz aos colegas que Lula “errou politicamente” e subestimou a capacidade do Congresso de reagir ao que considera “imposição do Executivo”.
Governo observa. Integrantes do Planalto afirmam que Alcolumbre assumiu postura “beligerante” e que será enfrentado se continuar a agir como o principal obstáculo para a aprovação de Messias. Os cálculos mostram um cenário apertado. Alcolumbre teria entre oito e dez votos absolutamente fiéis. Contaria ainda com 32 nomes da oposição, caso não seja, como ele mesmo reforçou, “traído”.
Total chegaria a 41 votos número necessário para derrotar a indicação do governo. Votação será secreta. E essa é a principal preocupação do Planalto: ninguém controla o que cada senador fará sozinho diante da urna eletrônica. Movimento expôs uma fissura grave entre Congresso e Executivo, em um momento que Lula tenta reorganizar sua base para 2026.
Crise alimenta insatisfação crescente no Senado, onde parte dos parlamentares já avaliava que o governo acumula “interferências desastrosas” em temas sensíveis. Alcolumbre, que poderia ser ponte para pacificar a relação, transformou-se em antagonista direto do Planalto.
Nos bastidores, comenta-se que Lula abriu “uma guerra desnecessária” e que o desgaste pode travar novas indicações, votações estratégicas e articulações importantes. O incêndio está aceso. E, desta vez, o governo não controla as chamas.