28 de julho de 2016
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O governo turco anunciou nesta quarta (27) o fechamento de 45 jornais e 16 estações de TV do país, segundo a agência estatal Anadolu, e a Justiça local emitiu ordem de prisão contra 47 jornalistas. Entre eles está o respeitado colunista e cientista político Sahin Alpay, detido em sua casa pela manhã. Na segunda-feira (25), as autoridades do país já haviam anunciado a detenção de 42 jornalistas, parte dos expurgos contra suspeitos de participar da tentativa fracassada de golpe no país. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusa o clérigo Fethullah Gülen, em auto-exílio nos Estados Unidos desde os anos 1990, de criar um “Estado paralelo” e instigar o golpe de Estado. (Gülen nega envolvimento.) Desde a tentativa de golpe em 15 de julho, o governo turco suspendeu ou deteve mais de 60 mil soldados, juízes, policiais, professores e jornalistas acusados de terem ligações com Gülen. Dentre esses, mais de 15 mil estão presos. Sahin Alpay era colunista do “Zaman”, maior jornal do país até ser interditado em março. A publicação era ligada a Gülen. Mas Alpay era um conhecido ativista de esquerda e secular, sem ligação clara com o clérigo, e era ex-integrante do CHP, o principal partido de oposição secular. “Essas prisões são uma caça às bruxas, uma tentativa de criminalizar opiniões críticas ao governo”, disse à Folha o turco Timur Kuran, professor de economia, ciência política e estudos islâmicos da Universidade Duke. “Alpay simplesmente trabalhava em um jornal ligado ao movimento de Gülen e simpatizava com as atividades de caridade do movimento, não tem nenhuma ligação com terrorismo ou tentativa de derrubar o governo.” Alpay e os outros jornalistas foram presos pela divisão antiterrorismo do governo, acusados de “participação em organização terrorista” e “tentativa de dissolver o governo da República turca”. Segundo Kuran, há indícios de que o movimento de Gülen, aliado a outros grupos, estaria envolvido na tentativa de golpe. “Mas a repressão que veio com o contragolpe, com a prisão imediata de milhares de dissidentes, muitos dos quais não têm nada a ver com Gülen, são apenas opositores de direita ou esquerda, mostra que o governo buscava apenas de um
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A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) condenou as ordens de prisão desta quarta.
“Criticar o governo ou trabalhar para veículos de mídia que apoiam o movimento Gülen não são prova de envolvimento no golpe fracassado. Se as autoridades não conseguirem apresentar indícios mais concretos, serão culpadas de perseguir as pessoas por causa das opiniões delas, e isso é inaceitável”, disse Johann Bihr, chefe do RSF para Europa do leste e Ásia central. A Turquia está em 151 lugar no ranking de Liberdade de Imprensa no Mundo, que avalia 180 países. O jornalista Yavuz Baydar, que também está na mira do governo, saiu do país e não pretende voltar para a Turquia enquanto vigorar o estado de emergência decretado na quinta-feira (21). Com o decreto de emergência, os dias de prisão preventiva legal passaram de quatro a 30 e mais de 2.000 instituições foram dissolvidas. Baydar conversou com Alpay há quatro dias. Ele disse estar preocupado, porque Alpay tem 72 anos e problemas respiratórios. “Disse que ele deveria ir para a Grécia ou algum outro lugar esperar a situação se acalmar. Ele me disse: ‘Estou muito velho para isso, vou esperar meu destino aqui mesmo’.” Governos ocidentais e grupos de direitos humanos, ao mesmo tempo em que condenaram a tentativa de golpe que resultou em 246 mortos e cerca de 2.000 feridos, expressaram preocupação com a reação de Erdogan, sugerindo que o presidente turco esteja usando a tentativa de golpe para reprimir opositores e aumentar seu poder.