Condenado a mais de 37 anos de prisão no processo do mensalão, o publicitário Marcos Valério cumpre pena, na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Sete Lagoas, em Minas Gerais, desde julho de 2017. Antes, já havia ocupado uma das celas do presídio de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), durante três anos e sete meses, e da Papuda (DF), por seis meses. Além disso, quando ainda cumpria prisão preventiva, na Penitenciária 2 de Tremembé (SP), entre outubro de 2008 e janeiro de 2009, chegou a ser espancado. Perdeu dentes e ganhou cicatrizes, episódio sobre o qual prefere não falar. “Não tenho interesse de conversar sobre esse assunto. Já passou”. A transferência para a Apac, onde parte dos presos tem as chaves das celas e os seguranças não andam armados, foi uma das condições do acordo de delação premiada que negocia com a Polícia Federal e com o Ministério Público. Este, no entanto, é outro assunto não tratado por Valério. “Teria que entrar no mérito de certas coisas e não quero. Não posso.” Mas, em entrevista à Folha de S. Paulo, divulgada nesta segunda-feira (23), o publicitário concordou em falar sobre a prisão do ex-presidente Lula. “Fico triste. Pelos familiares e também pelo transformador que Lula foi. Apesar de todos os erros que cometeu. Tenho certeza de que ele vai analisar e chegar a esta conclusão. Mas ele foi um transformador. Um ícone, né? Eu fico triste. Não faz bem para o país Lula preso”, disse. “Parei para pensar sobre o preço que a transformação paga. Naquele momento [governo Lula] era uma transformação por caminhos errados. [O Mensalão] Era para tentar andar com algumas propostas que o governo tinha e nós aprovamos. Era preferível não ter feito, esperado, a pagar o preço
Ele também falou sobre o arrependimento de ter participado do esquema. “O maior [arrependimento] é o de conhecer, como eu conheço, a máquina e ter participado. Era preferível fechar todas as agências de propaganda e ir criar galinha”, afirmou. “Não é só o dinheiro. É o poder. É agradável, mas, depois que passa por ele, você tem nojo. Hoje, tenho nojo de tudo aquilo. A política é bonita. O ruim dela são certos políticos e certas traições”, avaliou.
Ao avaliar o sistema carcerário brasileiro, Marcos Valério diz tratar-se de uma “grande universidade”. “No sistema tradicional, a sociedade já perdeu a guerra contra o crime. O sistema prisional comum é uma grande universidade, onde os antigos no crime ensinam os mais jovens e vão utilizá-los lá fora. O melhor local para se fazer um exército de marginais, de pessoas carentes e sem perspectivas, é a cadeia”, salientou. “Desculpa, mas as facções só vão crescer e se tornar mais fortes. Não se iluda. Tem político eleito com dinheiro das organizações [criminosas]. Elas estão dentro dos partidos políticos”, destacou.