“A casa-grande surta quando a senzala vira médica”, provoca postagem de Bruna Sena, de 17 anos. A estudante comemorou no Facebook ter alcançado o primeiro lugar no curso de medicina da Universidade de São Paulo (campus de Ribeirão Preto). Além do destaque no curso com concorrência de 75,58 candidatos por vaga, segundo dados da Fuvest-2017, Bruna venceu as barreiras impostas pelo fato de ser pobre e estudar em escola estadual, além do racismo. Em entrevista para a Folha de S. Paulo, Bruna contou que foi criada pela mãe, Dinália Sena, 50, que trabalha como caixa de supermercado e que vai ser a primeira da famÃlia a ter um curso superior. O fato deixa Dinália Sena apavorada: “Ela vai ser o 1% negro e pobre”, desabafou ao jornal. Bruna está tranquila e aproveitou para defender o programa de cotas. “São paliativos, mas precisam existir”. Bruna Sena sempre foi dedicada. Estudava de manhã na escola estadual Santos Dumont e à tarde frequentava um cursinho particular, do qual era bolsista. Financiada por parentes, a estudante também fazia aulas de Kumon de matemática. Um dos cursos que queria fazer e nunca teve dinheiro era o de inglês. Dona Dinália relata que Bruna recebia alguns livros de amigos. “Uma vez, essa amiga colocou R$ 10 dentro de um livro para comprarmos comida e escreveu: ‘Bruna, vence a vida, não deixe que ela te vença, estude'”. A escolha pelo curso de medicina, conforme a Folha, aconteceu há um ano, graças a conversas com professores do cursinho que frequentou, ligado à Faculdade de Medicina da USP-Ribeirão.