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27 de fevereiro de 2017
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Como a internet está mudando a face do cristianismo

FOTO BRUMADO ACONTECE

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A quase onipresença de smartphones e das redes sociais vem mudando o comportamento das pessoas em todo o mundo. Isso também atinge a forma como as pessoas praticam sua religião. Vários segmentos religiosos estão adotando tecnologias on-line para tornar mais fácil as pessoas comunicarem suas ideias e expressarem devoção. Segundo o reverendo Pete Phillips, diretor do Centro de Pesquisa de Teologia Digital da Universidade Durham, no Reino Unido, “a tecnologia está moldando as pessoas religiosas e mudando seu comportamento”. Pessoalmente, ele já experimentou isso. Lembra que em 2008 os fiéis eram impedidos de deixar os celulares ligados durante os cultos. Hoje, muitos ministérios insistem para que as pessoas os mantenham ligados e cresce o número de igrejas que disponibiliza wi-fi. Aplicativos como o YouVersion já substituíram as tradicionais Bíblias de capa preta. Ele é o mais popular do tipo, com mais de 260 milhões de usuários em todo o mundo. “Uma das primeiras coisas que os cristãos fizeram com o computador foi colocar a Bíblia em formatos digitais”, explica Phillips. Essas Bíblias digitalizadas agora são baixadas em segundos. De acordo com a igreja que desenvolveu o YouVersion, as pessoas gastaram mais de 235 bilhões de minutos usando o aplicativo e destacaram 636 milhões de versículos bíblicos. Mas ler a Bíblia nesse formato está, inclusive, mudando o modo como as pessoas veem as Escrituras. Phillips, que lidera um grupo de pesquisas sobre o assunto, assegura: “Se você pegar pela primeira vez uma Bíblia impressa em papel, pode parecer algo muito grande e complicado. Mas aprenderá que Apocalipse é o último livro e Gênesis é o primeiro, como Salmos bem no meio”. Porém, defende o estudioso, “Na versão digital você não tem nada disso, você não conhece os limites. Não precisa ficar folheando, vai direto para onde pediu para ir, e perde a noção do que vem antes ou depois. ” Entre as primeiras conclusões de seus estudos, ele destaca que a maneira que as Escrituras são lidas pode influenciar na maneira como são interpretadas. Por exemplo, já ficou evidenciado que o texto lido nas telas geralmente é visto de modo mais literal que o As características estéticas da leitura afetam a percepção como um todo. “Quando você está diante de uma tela, tende a se concentrar mais na informação”, diz Phillips. “É uma leitura simples, que não combina com a Bíblia. Você acaba lendo o texto como se fosse a Wikipedia, ao invés de enxergar um texto inerentemente sagrado.” Ao mesmo tempo, outra prática cristã está sofrendo alterações mais drásticas. Impulsionada pela disseminação das mídias sociais e pela descentralização da atividade religiosa, surgem as igrejas na palma da mão. Para muitos, já não é necessário pôr os pés em um templo. Nos Estados Unidos, uma em cada cinco pessoas que se identificam como católicos e um em cada quatro protestantes raramente ou nunca frequentam reuniões cristãs semanalmente, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center. Aplicativos e perfis de mídia social que mencionam versículos da Bíblia ou vídeo curtos permitem uma expressão privada de fé, que ocorre entre a pessoa e seu telefone. Essa capacidade de escolher significa que eles podem evitar facilmente o contato com uma doutrina que não os atrai. “Um novo tipo de cristianismo modificado para a era digital está surgindo”, insiste Phillips. Esta nova forma de religião foi identificada pela primeira vez por sociólogos em 2005, mas foi extrapolada pela popularização da internet. “As pessoas estão procurando uma experiência religiosa mais personalizada”, diz Heidi Campbell, da Universidade Texas A & M, que estuda religião e cultura digital. Mas isso não ocorre sem problemas. Para os eruditos, as pessoas preferem se apegar nos aspectos morais da Bíblia, em “fazer o bem”, ao invés de se prenderam a questão sobrenatural e a noção que o Universo é controlado por um líder todo-poderoso. Poderia ser classificada como “deísmo terapêutico moralista”, pois valoriza somente porções do ensino milenar. Os mais jovens acabam desenvolvendo uma visão genérica de Deus ao invés de pensar em um Deus que intervém. “Eles preferem falar sobre Deus que Jesus, porque ele não é específico. Afinal, ele é invisível e parece estar preocupado que todos sejam felizes enquanto seguem suas vidas, mas Jesus. Bem, ele parece entrar e interferir em tudo”, descreve Philips. Compartilhar versículos da Bíblia nas mídias sociais permite que os fiéis acabem fazendo leituras aleatórias, que não estão ligadas. É algo bem diferente comparado ao ato de sentar-se e ouvir um padre ou pastor escolher o que você vai ouvir todos os domingos. Não por acaso, os versículos da Bíblia estão sujeitos a “concursos de popularidade”. Por exemplo, anualmente o YouVersion revela quais os textos mais populares, que foram favoritados e compartilhados nas redes sociais. Frequentemente são aqueles que refletem os o crescimento da visão propagada no deísmo terapêutico moralista. A maioria se referem a coisas como vencer problemas ou lidar com ansiedade e frustração, por exemplo – em vez de promover a glória de Deus. As crenças religiosas “selecionadas” não são novas. Mas está mais fácil do que nunca criar uma fé individualizada. “A Internet e as mídias sociais ajudam as pessoas a fazer isso de maneiras mais concretas”, diz Campbell. “Nós temos mais acesso a mais informações, mais pontos de vista e podemos criar um ritmo espiritual e um caminho mais personalizado. A vida digital é uma comunicação de duas vias. As pessoas vêm com uma certa expectativa de como a comunidade responde e uma sensação maior de liberdade. As instituições religiosas precisam se adaptar ou perderão espaço”, assevera. Isso não é novidade, a fé cristã é boa em se adaptar. O cristianismo tem se reinventado por quase 2.000 anos. Dos rolos de pergaminho com apenas parte das Escrituras e reuniões secretas com meia dúzia de seguidores no primeiro século a megatemplos e Bíblia nas redes sociais quase dois milênios depois, as circunstâncias sempre forçaram mudanças. O futuro depende de como a igreja vai responder a isso.