Segunda principal causa de morte no Brasil, e a principal causa de incapacidade no mundo, o acidente vascular cerebral – AVC, ou derrame, como ficou mais popular – é conhecido por acometer a população adulta e idosa, mas também pode ocorrer em crianças e adolescentes. No Brasil não existem dados estatísticos precisos, mas, conforme explica a fisioterapeuta Laís Gerzson, mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) se estima que o acidente vitima 18 a cada 100 mil pessoas, entre a faixa etária dos 0 aos 18 anos, no Brasil. A média nacional é maior do que a mundial, que varia de 1,2 a 15, a cada 100 mil pessoas, segundo publicações científicas internacionais como a Neurology Clinics, Pediatrics e Journal of Child Neurology. Na Bahia, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado, em 2017, foram contabilizados 25 internamentos, com duas mortes, na faixa etária de 0 a 19 anos, vítimas do problema. O AVC infantil é bem menos comum, mas conforme explica o Dr. Bruno Bacellar, que é neurologista especializado em AVC e presidente da Sociedade de Neurologia da Bahia, nem por isso, sua gravidade e suas chances de ocorrer devem ser desprezadas. Segundo o médico, a criança que mais corre o risco de sofrer um derrame, costuma portar outras doenças, a exemplo da anemia falciforme, que tem sido foco de atenção, principalmente na Bahia. O AVC também está associado a febre reumática, dissecção arterial, neoplasia, leucemia, e até mesmo ao tratamento quimioterápico das doenças oncológicas, cujas substâncias podem levar a um acidente. A transclerose, e as doenças circulatórias, por outro lado, são mais conhecidas por causar o AVC na população adulta, contudo, elas podem sim vitimar os mais jovens. Condições como a diabetes e a dislipidemia familiar (alteração nos lipídios, sobretudo colesterol), devem ter a atenção especial dos pais e responsáveis pela criança, pois são também consideradas fatores de risco. O derrame também é um fator de risco para a população adolescente feminina, por conta do uso do alguns contraceptivos orais. Segundo Bacellar, alguns anticoncepcionais que tem estrogênio em sua composição requerem uma atenção especial. “Quando há progestágeno em sua composição o risco é menor, mas, no caso do estrogênio, ele aumenta o risco de coagulação e está associado a um tipo específico de AVC que é a trombose venosa, é a formação de trombos no sistema venoso cerebral”, explica o médico. Por estarem mais jovens, as vítimas do AVC infantil costumam ser mais resistentes e terem uma possibilidade de reabilitação maior do que adultos, contudo, ela ainda está vulnerável a graves sequelas, sendo o déficit motor a mais comum, e outras como as crises epilépticas e até o retardo mental. Em casos mais raros, pode ainda levar ao óbito. Assim como no caso da população adulta, também é possível evitar o AVC infantil, em grande parte dos casos. “Existe formas de evitar o AVC nessa população, pelo fato da gente já saber que ela tem essas doenças. As melhores formas de manejar, essas condições cardíacas, ou alimentações para evitar o AVC”.