4 de junho de 2016
Sem categoria
FOTO REDEÂ ACONTECE
O afirmou em delação premiada que a campanha de governador da Bahia em 2006 do ex-ministro Jaques Wagner (PT) recebeu recursos da comercialização de petróleos e derivados no mercado internacional por intermédio do ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli. “Em 2006 Jacques Wagner era o azarão, o terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto para o governo da Bahia. O apoio financeiro dado por Gabrielli foi o que permitiu Jacques Wagner vencer a eleição, contra os prognósticos iniciais”, afirmou Cerveró, em seu termo de colaboração 31, fechado com a Procuradoria Geral da República e tornado público nesta quinta-feira (2) por ordem do ministro Teori Zavascki – relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Ex-diretor da área Internacional de 2005 a 2008 e executivo da BR Distribuidora de 2009 a 2014, Cerveró afirmou que Wagner “teve participação decisiva na indicação de Gabrielli para a presidência da Petrobras”. Delator afirma que Lula discutia pessoalmente esquema na Petrobras orientou negócio com firma ligada ao filho de FHC Em delação, Cerveró diz que Dilma mentiu sobre compra de Pasadena. “Ambos integravam a chamada ‘República dos Caranguejos, ao lado de Marcelo Déda (governador de Sergipe, morto em 2013) e Humberto Costa (senador de Pernambuco)”, disse. Todos os citados são membros do PT. Cerveró afirma que o termo veio da disputa pela presidência da Petrobras, em 2005, com a saÃda de Eduardo Dutra. “Houve uma disputa grande para o cargo. O nome de Gabrielli foi apoiado pela ‘República dos Caranguejos”, contou o delator. Ele disputava com Rodolfo Landim, então presidente da BR, que teria sido apoiado pela presidente afastada Dilma Rousseff e
Cerveró não apresenta provas em sua delação desses supostos repasses feitos para a campanha de Jaques Wagner, por ação de Gabrielli – que também é da Bahia. Mas deu pistas sobre o suposto caminho do dinheiro.
“Esse apoio financeiro se deu por recursos obtidos através do trading internacional da Petrobras, que era controlado pela área de Abastecimento”, afirmou, apontando para a diretoria então sob presidência do engenheiro Paulo Roberto Costa.
“Esse trading é o que opera a comercialização de petróleo e derivados no mercado internacional. O grupo que controlava o trading internacional era ligado a Rogério Manso, então assessor de Sérgio Gabrielli.”
O assessor foi apontado como “uma espécie de eminência parda”. “Manso era da diretoria anterior, mas foi mantido como assessor de Sérgio Gabrielli pelo fato de ‘produzir propinas enormes’.O definiu o grupo de trading internacional como ‘impenetrável, um bunker’.
Cerveró explicou que os volumes comercializados pela área de venda de combustÃveis e derivados no mercado internacional “são gigantescos” e qualquer “alteração de centavos no preço de comercialização de um barril” resulta em grandes diferenças de valor na aquisição final. “Aà reside uma grande margem para propinas, por se tratar de um grande volume de recursos e de difÃcil controle”, afirmou o ex-diretor de Internacional da estatal. “Grande parte desses recursos foi usada na campanha de Jacques Wagner em 2006”, afirmou.
Cerveró apontou, ainda, como fonte de recursos suspeitos na campanha de Wagner, em 2006, a construção do prédio da Petrobras em Salvador para servir de sede do setor financeiro da estatal.
“(O negócio) também gerou aportes para a campanha de Jacques Wagner”, diz o delator, que atribuiu a decisão de levar o setor para a Bahia e de construir o prédio ao ex-presidente da estatal “Não havia nenhuma necessidade de mudança da área financeira da Petrobras para Salvador”, disse.
Cerveró diz ter certeza de que Gabrielli repassou recursos para a campanha de Wagner. “Foi uma decisão de Sérgio Gabrielli para beneficiar a candidatura de Jacques Wagner e sua própria futura e eventual candidatura. Tem certeza de que a transferência da área financeira da Petrobras para Salvador foi para atender pretensões eleitorais de Jacques Wagner e Sérgio Gabrielli, mediante levantamento de recursos para suas campanhas.” O delator disse não ter “informações mais detalhadas sobre como se deu esse levantamento de recursos”.
Defesas
O ex-ministro Jaques Wagner não foi localizado para comentar o caso. José Sérgio Gabrielli, defendeu-se em nota: “O delator Nestor Cerveró faz um conjunto de aleivosias e insinuações, sem nenhum fato concreto que indique qualquer comportamento ilegal e inadequado de minha parte”, disse.
R$ 18 milhões
Cerveró deixará a prisão no próximo dia 24 de junho, mas terá que devolver aos cofres públicos mais de R$ 18 milhões por conta da sua participação no esquema de corrupção da estatal, revelado pela Operação Lava Jato.
Os valores serão devolvidos para a estatal e a para União. Além da quantidade em dinheiro, ele também terá que repassar à Petrobras 10.266 ações da empresa. Se não cumprir o combinado, ele poderá perder imóveis, terrenos e uma fazenda que ele tem em cidades como Rio, Petrópolis e Teresópolis.
Ao deixar a cadeia nas próximas semanas, ele terá que cumprir prisão domiciliar, não podendo se ausentar da sua casa pelo prazo de um ano e seis meses.
Os termos do acordo de delação premiada foram negociados com a Procuradoria-Geral da República e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fim do ano passado. Nesta quarta-feira, 2, o documento foi tornado público.
O acordo foi fechado depois de vir à tona o esquema do ex-senador DelcÃdio Amaral (sem partido-MS) para tentar comprar o silêncio de Cerveró e evitar que o ex-diretor fizesse a delação.
Ex-diretor da área internacional da Petrobras, ele está preso desde janeiro de 2015. Em sua delação, ele afirma que a presidente afastada Dilma Rousseff mentiu sobre a compra da refinaria de Pasadena nos Estados Unidos e que ele “supõe” que soubesse que polÃticos do PT recebiam propina.
Ele também implica polÃticos do PMDB, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que teria lhe chamado em seu gabinete para reclamar da “falta de propina”.
Cerveró também afirma que entre as supostas irregularidades que presenciou na Petrobras durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) está a contratação de uma empresa ligada ao filho do ex-presidente, Paulo Henrique Cardoso.