Às 10h deste sábado (15), cerca de 20 recenseadores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) se reuniram em Moema, na zona sul de São Paulo, e peregrinaram em esforço para coletar dados de habitantes da região e entorno, como Itaim Bibi e Jardim Paulista, para o Censo Demográfico 2022.
A ação, que deve durar até as 17h, faz parte da campanha Condomínio no Mapa, que visa ampliar a base de dados em áreas de alta renda de locais como a capital paulista, o Rio de Janeiro e Cuiabá. As cidades registram porcentagens de “não resposta” acima da média (5,5%), em especial nas regiões mais abastadas.
Os bairros, diz Carlos Augusto Silva, coordenador do Censo do IBGE em Moema e arredores, são de difícil acesso, pois, além da recusa frequente dos moradores, administrações dos condomínios não costumam colaborar.
A reportagem acompanhou dois recenseadores, Daniel dos Reis e Talita da Silva, em um percurso de aproximadamente 2 km. Cada um deles visitou três endereços. Eram cinco condomínios com, em média, cinco apartamentos cada um, e uma casa.
Daniel conseguiu coletar dados de uma só família, a da casa, chefiada pelo empresário Rogério Marques, 41. Talita, nenhuma.
Nos majoritários casos de insucesso, o ritual era similar. Um dos profissionais do instituto interfonava e pedia para falar com o zelador. Este, malgradado, deslocava-se até a portaria, analisava a lista de apartamentos e dizia que os moradores não estavam presentes.
Irresignado, o recenseador insistia na importância de seu trabalho e na necessidade de auxílio por parte da zeladoria, que anotava a numeração dos apartamentos e passava ao porteiro. Este, em tempo recorde, dizia ter ligado e corroborava a versão inicial de ausência dos proprietários.
“Fazer o quê? É complicado mesmo. A nossa ideia era vir nesse mutirão para tentar, de certo modo, entrar na força bruta”, diz o recenseador Daniel dos Reis. “Vou tentar novamente mais tarde. Espero ter melhor sorte”.
Sua colega, Talita Silva, faz o circuito desde dezembro em busca dos esquivos moradores. Ela afirma ser uma região de muita desconfiança, mas que isso não a desanima. “Eu sempre deixo meu contato, eles podem falar com a gente por telefone também”, diz ela. “De qualquer maneira, tocarei todos os interfones novamente em algumas horas”.
O Censo é o retrato mais detalhado das condições demográficas e socioeconômicas da população brasileira. Os trabalhos foram iniciados em 1º de agosto de 2022. À época, o IBGE planejava concluir essa etapa em três meses, até outubro.
A coleta, contudo, sofreu uma série de atrasos, sendo encerrada para apuração inicial em março deste ano. O IBGE enfrentou dificuldades para contratar e manter em atividade os recenseadores.
Parte desses trabalhadores, contratados de maneira temporária, reclamou de atrasos em pagamentos e de valores abaixo do esperado. Houve desistências e ameaça de greve na categoria.
A divulgação dos primeiros dados da contagem da população brasileira está agendada para o início de maio, segundo o Ministério do Planejamento. Essa fase final de apuração prevê medidas pontuais em campo para alcançar mais cidadãos, como as que ocorrem neste sábado.
Até março, a coleta havia recenseado quase 189,3 milhões de pessoas, disse o IBGE.
O contingente equivale a cerca de 91% da população prevista, considerando a prévia do Censo divulgada pelo órgão em 28 de dezembro de 2022. Na ocasião, o levantamento havia calculado o número de habitantes em 207,8 milhões.
Esta edição do Censo estava prevista para 2020, mas foi adiada para o ano seguinte em razão da pandemia. Em 2021, houve novo atraso devido ao corte de orçamento para a pesquisa no governo Jair Bolsonaro (PL). Assim, o início da coleta ficou para 2022.