A Bahia registrou 428 tentativas de suicídio de crianças e adolescentes em 2020, durante a pandemia da Covid-19. Os dados são do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) da Sesab e refletem o cenário encontrado no resto do país, onde uma em cada quatro crianças e adolescentes apresentaram ansiedade e depressão durante a pandemia com níveis clínicos, ou seja, com necessidade de intervenção de especialistas, segundo a USP.
A pediatra Rayana Murta relata que o número, que só aumenta, adquiriu contornos dramáticos e não recebe a atenção devida. São crianças e adolescentes que relatam um tom de pessimismo e de sentimentos negativos como depressão, ansiedade, nervosismo, preocupação ou tédio, além de alterações no sono especialmente durante os períodos de isolamento social impostos pela Covid-19.
“O conhecimento de fatores de risco pode auxiliar na identificação dos jovens que estão em maior risco. O pediatra exerce papel fundamental nessa identificação, já que usa técnicas apropriadas para entrevistar crianças e adolescentes que demonstram potencial suicida e encaminham para acompanhamento especializado com um psiquiatra”, explica Rayana. Outra preocupação levantada pela pediatra é que simplesmente sair de casa pode não ser a solução, já que muitas crianças enfrentam sentimentos ambivalentes – ansiedade de encontrar amigos e medo de infectar parentes -, por exemplo. “Essa dualidade de sentimentos deve ser acolhida e trabalhada em conjunto com os profissionais da saúde, da educação e as famílias”, pontua a médica.