O Brasil tem avançado na realização de transplantes do coração nos últimos anos, mas ainda precisa realizar mais procedimentos e capacitar médicos para fazerem o devido encaminhamento à cirurgia, de acordo com Fernando Bacal, diretor da Unidade ClÃnica de Transplante CardÃaco do Instituto do Coração (InCor), do Hospital das ClÃnicas da USP. “No ano passado, 400 pacientes cardÃacos foram transplantados no Brasil. O ideal era fazermos 1.200. Cerca de 800 não fizeram porque não foram encaminhados ou morreram na espera”, afirmou Bacal, que participou na segunda-feira do seminário Coração Fraco. O evento foi organizado pelo jornal Folha de S.Paulo, com patrocÃnio do grupo farmacêutico Novartis e apoio da Rebric (Rede Brasileira de Insuficiência CardÃaca) e do Instituto Lado a Lado pela Vida. A mediação foi feita pela repórter especial do jornal Cláudia Collucci. “Muitos médicos e pacientes desconhecem que o transplante é uma realidade no Brasil. Não precisa vir a São Paulo, há vários centros que fazem o procedimento no paÃs”, explicou o médico. A continuidade do tratamento pós-cirúrgico, no entanto, ainda é um problema. Segundo Bacal, o governo fornece medicamentos imunossupressores, usados para evitar a rejeição do órgão transplantado, mas falta capacitação de profissionais da saúde para lidar com eles. Com isso, o ônus pós-cirúrgico recai sobre a instituição que realizou o transplante, quando o acompanhamento poderia ser feito em centros de atendimento mais próximos
Um outro problema do tratamento de insuficiência cardÃaca no paÃs, levantado durante o debate, é a falta de atenção dada à reabilitação, de acordo com Amanda Gonzales, cardiologista da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do ExercÃcio do InCor. “Pacientes bem orientados na alta médica aderem muito mais a modificações de estilo de vida, como controle do peso e exercÃcios”, afirmou Gonzales. Hoje isso nem sempre ocorre, segundo ela, em parte porque os pacientes acabam deixando de seguir as orientações médicas, em parte porque não são aconselhados adequadamente.
Gonzales também fez crÃticas à falta de centros de reabilitação em uma cidade como São Paulo. Para ela, o ideal seria a descentralização do atendimento, com a instalação de unidades de tratamento multidisciplinares dentro das UBS (Unidades Básicas de Saúde). Segundo Susana Basilio, enfermeira coordenadora da Cardiologia ClÃnica e Cirurgia CardÃaca do Hospital São Paulo, da Unifesp, muitos dos pacientes não aderem à reabilitação pós-tratamento porque não entendem as orientações do médico nem sua importância para evitar internações futuras.
A unidade onde a enfermeira trabalha oferece acompanhamento após a alta, com equipe multidisciplinar, incluindo fisioterapeuta, nutricionista e educador fÃsico. “O problema é que, quando a pessoa sai de lá, deixa de seguir a rotina. Precisamos educar os pacientes para que entendam a importância de continuar o tratamento fora do hospital”, afirmou.
Para Bacal, a telemedicina -cuja implementação no Brasil está sendo analisada pelo Conselho Federal de Medicina- deve ser uma importante aliada do trabalho de reabilitação. “O acompanhamento de forma remota, com uma equipe multidisciplinar, pode ser muito impactante para uma doença como a insuficiência cardÃaca. É uma tecnologia que deve ter impacto na atenção primária, na prevenção e no monitoramento”, disse.