A disputa dos partidos da base do governo pela segunda vaga ao Senado na chapa de Rui Costa (PT) está fazendo com que todos eles esqueçam do suposto titular da primeira delas, o petista Jaques Wagner. É como se o ex-governador tivesse uma cadeira cativa ao lado do governador sobre a qual não fosse dado fazer sequer uma discussão no grupo. Mas nem sempre foi assim. Antes de a pré-campanha iniciar, no ano passado, o próprio Wagner admitia a correligionários que poderia não ser candidato a senador, caso a disputa por espaço na chapa de Rui esquentasse e o governador se visse forçado a acomodar outras forças políticas nela de forma a pavimentar sua reeleição. O cenário, naturalmente, levava em conta a presença na concorrência do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), que, então, principalmente depois da reeleição acachapante em Salvador, era apontado como o candidato natural das oposições e desde o princípio sempre foi considerado um adversário duro de enfrentar. Wagner ainda não aparecia como uma espécie de plano B para a sucessão presidencial no PT, mesmo porque eram poucos, no partido, que acreditavam que, na eventualidade de uma condenação judicial, o ex-presidente Lula pudesse ser preso, como acabou acontecendo em
Na verdade, buscando facilitar a vida de Rui Costa, o ex-governador sempre se colocou mais como um solução do que como um problema, aludindo, com frequência, à possibilidade concreta de disputar antes uma vaga à Câmara dos Deputados, ao invés de enfrentar uma campanha, naturalmente mais custosa e mesmo desgastante, como a de senador. O discurso era o de que não seria empecilho para a renovação da aliança formada pelos partidos atualmente alinhados ao governador em torno do seu projeto de reeleição, por motivos óbvios, projeto eleitoral mais prioritário do que todos os outros no campo governista.
Sem dúvida, a saída de cena de ACM Neto trouxe perspectivas mais tranquilizadoras para a reeleição do governador. Agora, sua campanha teria mais a configuração de um “passeio”, como se fala no jargão político, do que de uma luta desabrida por conquista de espaço e poder, os quais já se encontram em mãos do petista. E, neste contexto, favorecido por um cenário menos acirrado do ponto de vista da disputa, Rui Costa estaria sob uma pressão infinitamente menor para poder escolher seus parceiros ideais afim de fazer a caminhada para a sua confirmação como inquilino do Palácio de Ondina em outubro.
A presença de Wagner a seu lado, por exemplo, ocupando uma das duas vagas ao Senado em jogo nestas eleições, teria passado de uma possibilidade concreta e agradável para assumir status de verdadeira cláusula pétrea, daquele tipo em que não se mexe. Mas os fatos só se sucedem desta forma porque os aliados também internalizaram esta condição, assumindo o nome do ex-governador como candidato de todo o grupo, apesar de ele também pertencer ao mesmo partido do governador, quando existem mais agremiações na base a que se contemplar, mesmo numa corrida eleitoral em que Rui Costa reforçou seu favoritismo.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado originalmente na Tribuna.