Um experimento fracassado feito pela empresa britânica Oxitec, liberou cerca de 12 milhões de mosquitos Aedes aegypti transgênicos machos na cidade de Jacobina, no Centro-Norte da Bahia, entre 2013 e 2015. Os lançamentos foram feitos nos bairros de Pedra Branca e Catuaba. As informações são da agência alemã Deutsche Welle. De acordo com o projeto, a ideia era conter populações do mosquito transmissor da dengue, febre amarela, zika e chikungunya. Mas, os insetos transgênicos conseguiram se reproduzir e repassaram para novas gerações genes modificados em laboratório. A solicitação de parecer técnico referente à biossegurança para liberação comercial da linhagem OX513A de Aedes aegypti, geneticamente modificada para expressar um traço letal condicional e um gene marcador fluorescente com a finalidade de controle do Aedes aegypti, foi deferida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em 2013. Segundo o parecer feito pela CTNBio, acessado pelo BNews, o experimento foi liberado mesmo ainda não existindo experiência com a liberação destes organismos. A intenção do Ministério da Saúde era reduzir a população de mosquitos em 90%. A mudança genética foi projetada para que a primeira geração de mosquitos não alcançasse a fase adulta, não podendo se reproduzir. Segundo a agência alemã, isso funcionou durante o teste de campo. Depois de 18 meses após o final do experimento, a população de mosquitos voltou a crescer alcançado o volume anterior ao teste. Pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, estudaram as alterações genéticas dos mosquitos presentes na região entre 27 a 30 meses após a sua liberação. O resultado destas análises não foi o esperado. Eles concluíram que partes da mudança genética produzida em laboratório migraram inesperadamente para a população-alvo dos mosquitos locais. Um estudo publicado, na terça-feira (10), na revista especializada Nature: Scientific Reports, aponta que nas várias amostras, entre 10% e 60% dos mosquitos apresentaram alterações correspondentes às dos transgênicos no genoma. Acredita-se que se o teste de campo tivesse ocorrido como inicialmente previsto pelos cientistas, a modificação genética não teria passado adiante para as populações locais porque os descendentes dos transgênicos liberados originalmente não seriam capazes de se reproduzir. No entanto, já se sabia anteriormente a partir de experimentos de laboratório que uma pequena proporção, de cerca de três a quatro por cento dos descendentes de mosquitos OX513A poderia atingir a idade adulta. Mas, os cientistas presumiram que eles seriam fracos demais para se reproduzir. Os autores do estudo relatam ainda que os mosquitos, tanto antes quanto após o experimento, continuaram igualmente potenciais transmissores das doenças em questão. A equipe de pesquisa em torno de Jeffrey Powell, em Yale, alertou também que a nova população de mosquitos, criada a partir da liberação dos insetos transgênicos, pode ser mais resistente do que a anterior. O laboratório de pesquisas de Munique Testbiotech criticou a Oxitec por ter iniciado os testes de campo sem estudos adequados. “Os experimentos da empresa Oxitec levaram a uma situação em grande parte incontrolável”, disse o diretor do laboratório Christoph Then. O especialista ressaltou também que o incidente deve gerar consequências para o uso futuro da engenharia genética. Procurado, o representante da Promotoria de Justiça Especializada em Meio Ambiente de Âmbito Regional, em Jacobina, o promotor de Justiça Pablo Almeida, explicou que o caso deveria ser acompanhado pelos órgãos federais, pois a liberação foi feita pela CTNBio. No entanto, ele ressaltou que o órgão analisa a legislação para ver de que forma poderia se dar a atuação estadual. A reportagem tentou contato as assessorias do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e do Ministério da Saúde, mas até a publicação nenhum esclarecimento foi enviado. A reportagem tentou contato as assessorias do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e do Ministério da Saúde, mas até a publicação nenhum esclarecimento foi enviado.