26 de fevereiro de 2016
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Quando foi transferido da Grande São Paulo para a unidade 3 da Fundação Casa em Sorocaba (SP), João* (nome fictÃcio), 18 anos, não imaginou que sua vida mudaria tão radicalmente. Internado por participar de um sequestro relâmpago, ele chegou ao interior do Estado em outubro de 2015 sem perspectivas para o futuro. Decidiu então se dedicar à grade acadêmica da instituição para “matar o tempo”, como ele faz questão de dizer, prestou o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL) em dezembro e conseguiu o que julgava ser impossÃvel: uma vaga para cursar Direito em uma universidade. “Achava que voltaria para o crime. Mas quando cheguei em Sorocaba, tudo mudou. Minha tutora acreditou em mim e me incentivou. Estudava o tempo todo para o tempo passar mais rápido e consegui a vaga. Agora a meta é ser defensor público”, diz. João, que foi selecionado por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), havia desistido dos estudos no 1º ano do ensino médio porque, segundo ele, “era difÃcil acompanhar o ritmo em uma sala com mais de 40 alunos”.
A decisão de deixar o colégio, porém, não foi aprovada pela famÃlia, principalmente pelo pai. “Ele não estava satisfeito com minhas decisões e disse que, se um dia eu fosse preso, ele nunca me visitaria. Estou há um ano e cinco meses internado e ele cumpre a promessa”, admite. Para o paulistano, a culpa por ter decepcionado o pai é pior do que a privação da liberdade. “Ele é um homem trabalhador e honesto. Na primeira ligação que recebi aqui dentro [na Fundação Casa], ele disse que quando eu sair, vai estar me esperando para eu mudar de vida. Ele vai ficar muito feliz com a minha aprovação”, afirma. Reconstruir o elo familiar também é um dos objetivos que Lucas* (nome fictÃcio), de 18 anos, definiu quando recebeu a notÃcia de que havia sido aprovado no curso de educação fÃsica em uma universidade da região. O jovem, que cumpre pena há oito meses por assalto, diz ter emocionado a mãe, o irmão mais novo e o padrasto ao dar a notÃcia e prometeu cumprir um sonho antigo da famÃlia. “Minha mãe tinha o sonho de me ver sendo orador na formatura. Ela sempre me falava isso. Demorou, mas agora vou começar a cumprir essa meta. Meu maior sonho é que ela e toda a minha famÃlia se orgulhem de mim”, diz. Aprovado no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), Lucas afirma que os poucos alunos por sala de aula na entidade sorocabana, além do incentivo da equipe multidisciplinar, foram fundamentais para a conquista. “Enquanto há vida, há esperança. Quando fui internado, minha mãe me perguntava o que mais precisava acontecer para eu ver que estava agindo de maneira errada. Fizemos do erro, um acerto”, analisa.