Oito homens concentram o poder das cinco maiores redes de televisão do Brasil. Todos brancos e com pensamento à direita no espectro político. A líder de audiência, Globo, fundada por Roberto Marinho em 1965, está nas mãos dos três filhos dele, Roberto Irineu Marinho, 74 anos, João Roberto Marinho, 68, e José Roberto Marinho, 66.
Na prática, as principais decisões sobre o canal são tomadas por Paulo Marinho, 44, filho de José Roberto, desde que ele assumiu como diretor-presidente em fevereiro. Após queda de receitas no início da pandemia de covid-19, o Grupo Globo teve forte reação no segundo semestre de 2021. A agência americana Fitch projeta a entrada de R$ 15,7 bilhões nas contas da companhia este ano.
Apesar de ter a cúpula formada por homens considerados conservadores, a emissora carioca é a que exibe o conteúdo mais progressista, com destaque para visibilidade a artistas, jornalistas e personagens LGBTQIA+.
O jornalismo da Globo é atacado tanto pela direita quanto pela esquerda. Faz críticas contundentes a Jair Bolsonaro. Em uma cruzada pessoal contra a TV dos Marinhos, o presidente cogita não renovar a concessão pública que vence em outubro.
Segunda no ranking do Ibope, a Record TV – fundada pelo empresário Paulo Machado de Carvalho em 1953 – é propriedade do bispo Edir Macedo, 77 anos, líder da Igreja Universal do Reino de Deus. Ele a comprou em 1989 da família do fundador e de Silvio Santos, que eram sócios no negócio.
Durante muitos anos, colocou religiosos de confiança para dirigir o canal, que fatura cerca de R$ 2 bilhões por ano. Desde 2013, a direção está com o administrador Luiz Cláudio Costa, profissional de TV com ampla experiência no meio. Macedo defende as tradições familiares e o governo de Bolsonaro, frequentemente poupado nos telejornais do canal.
A cartilha religiosa do bispo é mais visível nas novelas e séries de inspiração bíblica, supervisionadas pela filha dele, a diretora de dramaturgia Cristiane Cardoso.
Apesar do viés evangélico, há espaço para alguma ousadia na Record. Um exemplo disso foi visto em ‘A Fazenda 13’, quando um gay militante, o influenciador Rico Melquiades, se tornou a atração principal e venceu o reality show. Em um canal reacionário, ele sequer teria sido escalado para o programa.
Silvio Santos inaugurou o SBT em 1981. Sempre foi o principal apresentador da casa e dá a palavra final sobre a programação. Dos primeiros anos até o final da década de 1990, era um concorrente de peso da Globo. Usava o slogan “rumo à liderança”.
Ao longo do tempo, a emissora perdeu fôlego e ficou estagnada. Hoje, luta para não se manter distante da Record TV na aferição de audiência. As receitas anuais giram em torno de R$ 1 bilhão. Falta dinheiro para renovar a grade de atrações.
Silvio era visto como um homem liberal e até à frente do tempo. Em seu programa aos domingos, na década de 1980, dava espaço para transformistas e travestis se apresentarem. No entanto, sua imagem mudou devido a comentários considerados discriminatórios e ofensivos diante das câmeras. Passou a ser encarado como um moralista de alma populista.
Aos 91 anos, ele conta com duas filhas em postos de liderança no SBT. Renata Abravanel na presidência e Daniela Beyruti como diretora artística e de programação. O ‘Homem do Baú’ sempre manteve relação cordial com os poderosos de Brasília. É um entusiasta declarado de Jair Bolsonaro. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, é seu genro, casado com a filha número 4, a apresentadora Patrícia Abravanel.
No ano passado, surgiu o boato de que Silvio Santos estaria decidido a vender o SBT. Valor: 1 bilhão de dólares (R$ 5 bilhões na cotação de hoje). O canal negou a informação.
Johnny Saad, 69 anos, é o presidente da Band, quarta maior emissora do País. Ele tem quatro irmãos. O fundador foi o pai deles, João Jorge Saad. O início das transmissões aconteceu em 1967. A TV do Morumbi possui faturamento estimado em R$ 500 milhões por ano.
De perfil discreto, Johnny elogiou algumas ações de Bolsonaro no Planalto, porém, prefere não se envolver diretamente em política. O empresário é também um homem do agronegócio. Âncoras de seu canal costumam fazer comentários ácidos contra o presidente da República e seus aliados.
No ar desde 1999, a RedeTV! tinha fama de vanguardista, sem se curvar às pautas de costumes. Passou a ser interpretada com outros olhos após seu vice-presidente, Marcelo de Carvalho, 60 anos, que também é apresentador, assumir posições conservadoras e fazer a defesa enfática do bolsonarismo.
O outro sócio, Amilcare Dallevo Jr., 64, presidente da emissora, já esteve com o presidente. Apesar de não fazer ativismo ideológico publicamente, ele é visto como um homem tradicionalista. Com faturamento anual em torno de R$ 400 milhões, a RedeTV! fica perto do traço no Ibope em alguns horários da programação.
Os principais canais de notícias também são controlados por homens do mesmo perfil. Dono da CNN Brasil, Rubens Menin, 66 anos, está entre os mais influentes apoiadores de Bolsonaro. Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, 65, comanda a Jovem Pan News. A GloboNews é do clã Marinho. Record News pertence ao bispo Macedo e a Band News, à família Saad.