O número de pacientes hospitalizados nos EUA com Covid-19 é o mais alto de todos os tempos. Se esse ritmo de internações for mantido, especialistas em saúde alertam que talvez seja necessário racionar enfermeiros, respiradores e cuidados de saúde.
“Quando se esgota a capacidade, os médicos e especialistas em bioética dos hospitais precisam decidir quais pacientes podem ser recuperados – os potencialmente recuperáveis – e quais não”, explicou o doutor Jonathan Reiner, analista médico da CNN.
Os EUA contabilizavam 121.235 pacientes internados com coronavírus na segunda-feira (28), o maior número desde o início da pandemia, de acordo com o Covid Tracking Project. A taxa de pacientes com coronavírus dentro das UTI aumentou de 16% em setembro para 40% na semana passada. Os especialistas em saúde preveem que as viagens de final de ano podem significar um “aumento repentino”.
O aumento nos casos obrigaria o Martin Luther King Jr. Community Hospital em Los Angeles a racionar cuidados de saúde, conforme admitiu a CEO do hospital, doutora Elaine Batchlor.
“Se continuarmos a registrar um aumento no número de pacientes com Covid-19, podemos ser forçados a fazer algo que, como profissionais de saúde, odiamos sequer ter de pensar em fazer”, disse Batchlor.
No Huntington Memorial Hospital em Pasadena, Califórnia, enfermeiros que geralmente cuidam de um ou dois pacientes agora estão atendendo três ou quatro de uma vez, disse a especialista em doenças infecciosas Kimberly Shriner à CNN.
“Temos um número limitado de respiradores e de leitos de UTI”, explicou a doutora Shriner, acrescentando que uma equipe incluindo um especialista em bioética, um membro da comunidade, um médico, um enfermeiro e um líder administrativo decidirá como dividir esses recursos se for o caso.
“Se não há respiradores e profissionais de enfermagem para cuidar dos pacientes, nem há leitos de UTI, teremos que ter essas conversas terríveis com as famílias. Por isso, as pessoas precisam ficar em casa, e quando saírem, sempre usarem uma máscara”, disse Reiner.
O hospital Martin Luther King Jr. não recusará pacientes, disse Batchlor, mas a equipe pode ter que empregar técnicas usadas em guerras.
“Usamos o que no campo de batalha é chamado de técnica de triagem, que é fazer uma avaliação das necessidades e prognósticos de cada pessoa e usar recursos escassos com os pacientes que têm maior probabilidade de se beneficiar deles”, detalhou a CEO do hospital.
Na verdade, os recursos já estão sendo usados de maneiras não convencionais para acomodar o aumento de pacientes.
“Nossa equipe tem sido incrivelmente hábil e flexível para acomodar um número cada vez maior de pacientes. Nós temos cinco cabanas montadas fora do hospital. Temos pacientes em nossa sala de conferências e em nossa capela”.
Segundo ela, muitas macas foram levadas até para a loja de presentes dentro do hospital.
Embora Batchlor não tenha especificado quantos dos novos pacientes têm Covid-19, o aumento em seus números está sobrecarregando todo o serviço.
A diretora de serviços de saúde do condado de Los Angeles, Christina Ghaly, disse que alguns hospitais estão atendendo pacientes que nem chegam a sair das ambulâncias.
“Há pacientes sendo atendidos e tratados nas ambulâncias como se estivessem numa baia do pronto-socorro”, contou Ghaly.
Até agora, cerca de 2,1 milhões de doses de vacina foram aplicadas nos Estados Unidos e mais de 11,4 milhões de doses haviam sido distribuídas até segunda-feira (28), de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
Outras 4,7 milhões serão distribuídas até o final da semana, de acordo com o secretário adjunto de Saúde do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) dos Estados Unidos, almirante Brett Giroir. Isso elevaria o total a mais de 15,5 milhões de doses “nas mãos dos estados”.
Com as doses chegando às autoridades estaduais, Nova Jersey espera vacinar cerca de 31 mil residentes de casas de repouso até o final da semana, segundo disse o governador Phil Murphy em uma entrevista coletiva na segunda-feira.
“A cada dia que passa, nosso programa de vacinação está crescendo um pouco e ficando muito mais forte”, disse Murphy a repórteres. “Com o Ano Novo, esperamos a inauguração de nossos seis grandes centros de vacinação, a expansão adicional de nossos esforços e o movimento contínuo de vacinar cada grupo prioritário”.
Apesar desses desenvolvimentos, o doutor Ashish Jha, reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown, disse na segunda-feira que os EUA estão ficando para trás de países como Israel e Canadá no ritmo dos esforços de vacinação.
“Nós realmente temos que aumentar o ritmo das vacinas”, afirmou. “As coisas estão em crise”.
Segundo ele, fabricantes como a Pfizer têm milhões de doses esperando para serem distribuídas. Mas parte do problema se deve ao fato de o governo federal não prossegue nos esforços de aplicar as vacinas depois que elas entregues aos estados.
“Há muito trabalho para levar a vacina do estado para os braços das pessoas e a gente precisava de um conjunto de planos mais claro do que aquele que tem no momento”, disse ele a Jim Acosta, da CNN.
Já duramente atingido pelos impactos do coronavírus, o condado de Los Angeles relatou quase 100 mil novos casos na semana passada, disse a diretora de saúde pública do condado de LA, Barbara Ferrer.
“A triste realidade é que todos os indicadores nos mostram que nossa situação só pode piorar no início de 2021”, disse Ferrer.
As regiões de Southern California e San Joaquin Valley estão sob uma ordem regional de permanência em casa, que deveria expirar nesta semana. Mas, com base nas tendências atuais e na capacidade da UTI nessas regiões caindo para 0%, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, anunciou que o pedido provavelmente será estendido.
O estado acrescentou 33.170 novos casos do coronavírus e 64 mortes somente na segunda-feira (28). O governador Newsom alertou que o número ligeiramente menor de mortes se deve a um atraso na contagem no fim de semana.
O secretário da Agência de Saúde e Serviços Humanos da Califórnia, doutor Mark Ghaly, usará os dados revelados na segunda-feira para as as projeções com base em um período de quatro semanas, que devem ser anunciadas na terça-feira (29).
A Califórnia registrou mais de 2,1 milhões de casos de coronavírus e mais de 24 mil mortes desde o início da pandemia.
Lauren Mascarenhas, Virginia Langmaid, Paul Vercammen, Artemis Moshtaghian, Taylor Romine, John Bonifield, Naomi Thomas, Deidre McPhillips, Jenn Selva, Sarah Moon, Steve Almasy e Holly Yan, da CNN, contribuíram para esta reportagem.