Nos últimos sete anos, a vida da dona de casa Luciana Martins dos Santos foi marcada por dias angustiantes e noites mal dormidas. Foi um período com idas e vindas aos postos de saúde, aos consultórios médicos e hospitais em busca de uma resposta para as crises convulsivas diárias do filho que, hoje com 13 anos, começou apresentar quando tinha seis anos. Mas uma cirurgia realizada na Santa Casa de Misericórdia de Itabuna (SCMI) pôde mudar esse quadro. O procedimento realizado no hospital Materno-Infantil Manoel Novaes, vai ajudar no controle das crises convulsivas e amenizará o sofrimento da família, residente no município de Gongogi, no sul da Bahia.
As crises que o menino sofria eram agravadas pelo denominado “Tumor Neuroepitelial Disembrioplásico”, considerado um tipo raro. A incidência do tipo de tumor cerebral, ressecado durante a cirurgia, vai de 2,5% a 25% das lesões removidas para tratamento da epilepsia fármaco resistente crônica, que é de difícil controle. O tipo de tumor foi confirmado por exame anatomopatológico e a cirurgia para a sua remoção custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O tumor cerebral raro se manifestava por meio de crises convulsivas recorrentes. “A tendência é que esse paciente não sofra mais com as crises constantes e tenha melhor qualidade de vida”, adianta o chefe do serviço de Neurocirurgia da SCMI, o médico Sílvio Porto.
O médico neurocirurgião pediátrico Fernando Schmitz, responsável pela cirurgia, explica que, conforme estudos, foram registrados cerca de 330 casos deste tipo de tumor no mundo inteiro. O paciente já recebeu alta médica e seguirá acompanhado pela equipe de oncologia e de neurocirurgia Hospital Manoel Novaes para avaliação clínica periódica em relação a cirurgia e o controle das crises convulsivas.
Depois da cirurgia, a dona Luciana Martins espera que as idas ao médico para levar o filho não ocorra com tanta frequência. Ela conta que, por causa das crises convulsivas frequentes e violentas, nos últimos cinco anos, tem dedicado quase todo o tempo para cuidar do filho. “Ele não podia ficar 10 minutos sozinho porque eu tinha muito medo. Ele já foi levado algumas vezes para atendimento de urgência por cair e machucar a cabeça”.
O médico neurocirurgião pediátrico Fernando Schmitz explica que o paciente sofria de crises convulsivas de difícil controle. “A criança estava em uso de três medicações anticonvulsivantes, tomando vários comprimidos por dia e, mesmo assim, sem o controle total das crises. Por isso, mesmo com 13 anos de idade, ele necessitava de supervisão 24 horas por dia, devido as crises frequentes e risco constante de se machucar”.
O neurocirurgião explica que, conforme relatado na literatura, até 50% dos pacientes com o tipo de tumor detectado no menino tem controle total das crises após serem submetidos a cirurgia. A outra metade tem uma melhora no controle das crises convulsivas. “No caso desse paciente, ainda não podemos afirmar se ficará definitivamente livre das convulsões, caso não tenha a situação completamente sanada, sofrerá menos e terá uma melhor qualidade de vida”, adianta o médico.