7 de março de 2016
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As acusações de inércia contra a ONU só chegaram à imprensa internacional após um funcionário da organização, vazar um relatório confidencial sobre denúncias de abuso. As acusações de inércia contra a ONU só chegaram à imprensa internacional após um funcionário da organização, vazar um relatório confidencial sobre denúncias de abuso Uma menina revelou para um membro da Comissão de Direitos Humanos, que “fez sexo oral em soldados franceses em troca de uma garrafa de água e um pacote de biscoitos”. Ela se referia aos crimes sexuais cometidos por soldados e funcionários da ONU. Segundo o G1, na última sexta-feira (4), um informe foi divulgado como parte de uma nova política que busca “nomear e envergonhar” os responsáveis. Tal estratégia foi adotada após escândalos de abusos sexuais a crianças e adolescentes por seus soldados na República Centro-Africana, em 2015. O secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon, apresentou o documento que contém uma lista 99 novas denúncias de abuso sexual cometido por soldados e funcionários da organização em missões internacionais no ano passado, refletindo um crescimento em relação aos 80 casos registrados em 2014. Dos 99 casos denunciados, 69 foram de abusos cometidos por soldados em missões de paz e 30 por funcionários da ONU em outros setores. De forma inédita, foi divulgada a lista de países onde tais denúncias ocorreram: Alemanha, Burundi, Gana, Senegal, Eslováquia, Madagascar, Ruanda, República Democrática do Congo, Burkina Fasso, Camarões, Tanzânia, Níger, Moldávia, Togo, África do Sul, Benin, Nigéria e Gabão. A maioria dos abusos ocorreu na África. Entretanto , o relatório foi altamente criticado pela ONG Code Blue, que monitora as denúncias contra soldados, os “capacetes azuis” e funcionários das Nações Unidas. “O que a ONU fez exatamente diante das mais de 1 mil denúncias de abuso sexual contra seus funcionários desde 2007? Debaixo da máscara de que toma alguma providência, o que realmente existe é a inércia”, declarou a
O relatório da ONU pede que os países dos acusados julguem os culpados em seus tribunais e que um banco de amostras de DNA de seus soldados seja criado para facilitar os processos criminais. Mas, excluindo essas recomendações, pouca coisa mudou nos locais onde o órgão atua. Uma adolescente de 14 anos falou com a Human Rights Watch: “Eu passava pela base da Minusca (a missão da ONU no país) no aeroporto quando me atacaram. Os soldados estavam armados. Um segurou meus braços enquanto outro arrancou minha roupa. Jogaram-me em um pasto, e, enquanto um me segurava, outro me estuprou.” Outra jovem de 18 anos declarou ter sido abusada sexualmente quando foi pedir comida na base dos soldados da ONU na República Democrática do Congo. “Três homens armados se jogaram em cima de mim e disseram que me matariam se eu os denunciasse. Todos eles me estupraram”, afirmou a jovem. O general Romeo Dallaire, ex-comandante das tropas da organização em Ruanda durante o genocídio ocorrido em 1994, afirmou em 2015 que as denúncias de abuso de menores na República Centro-Africana lhe causava nojo. “O caso vai totalmente contra a suposta razão pela qual as tropas são enviadas a campo em missão de paz”, disse Romeo. As acusações de inércia contra a ONU só chegaram à imprensa internacional após um funcionário da organização, Anders Kompass, que, frustrado diante da falta de ação da instituição, vazou um relatório confidencial sobre denúncias de abuso e o entregou a promotores da França. “No universo paralelo da burocracia da ONU, os mesmos personagens que tiveram um papel ativo no fracasso da (missão na) República Centro-Africana agora supervisionam as mudanças para melhorar a situação. Quando as raposas estão encarregadas do galinheiro, o galinheiro está condenado”, afirmou a Code Blue.