26 de fevereiro de 2016
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A nova edição do estudo “Analfabetismo no Mundo do Trabalho” dá o mesmo diagnóstico de suas últimas edições, publicadas em 2009 e 2011: um a cada quatro brasileiros pode ser considerado analfabeto funcional. A pesquisa, divulgada nesta semana pelo Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa com base no ano de 2015, testou cerca de 2 mil pessoas de zonas urbanas e rurais e verificou que nada menos que 27% dos brasileiros continuam pertencendo a essa classificação. O grupo engloba tanto aqueles completamente iliterados quanto indivíduos capazes apenas de compreender textos simples, entender algo de pontuação e reconhecer números familiares, em operações matemáticas simples. As habilidades foram postas à prova na população de 15 a 64 anos. Apenas 8% dos pesquisados mostraram domínio e chegaram ao nível máximo do teste, considerados “proficientes” em português e matemática. Dos cinco níveis possíveis, a maior parcela, de 42%, está no grau “elementar”, aqueles que estão aptos a trabalhar bem com a casa de milhar e números negativos em matemática, compreendem e tiram conclusões simples de textos médios, além de agrupar informações textuais e numéricas de tabelas simples, por exemplo.
“De 2001 a 2009 melhoramos o índice de 39% para 27% simplesmente pelo crescimento de frequentadores de escolas e o natural aumento dos anos de estudo da população”, afirma Ana Lucia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro. “Daqui para a frente, não adianta permanecer na escola, mas são precisas melhorias que aprimorem o ensino de fato”, afirma. “Nada disso é novidade: trata-se de políticas de educação, de qualidade da formação, de condição de trabalho do professor.” Se nada disso é inédito, o grupo de pesquisadores priorizou a análise como forma de contextualizar os efeitos dessa taxa de analfabetismo funcional no mercado de trabalho do Brasil — daí o nome da pesquisa. Aplicada a este universo, percebe-se que quanto maior o nível de domínio, cresce junto a proporção de empregabilidade. Enquanto 47% dos analfabetos se diziam trabalhando, 75% dos proficientes tinham emprego. Nos níveis médios, há uma crescente, mas sem grandes saltos entre um e outro. Além do fato de estarem ocupados, os níveis mais altos de compreensão linguística são características de diretores ou gerentes de empresas. Enquanto 1% dos analfabetos ocupam os níveis mais altos, são 9% dos proficientes. Sabe-se, no entanto, que diretoria é um funil com pouca amostra. Portanto, a diferença só dispara em cargos de gerência: são 4% contra 31%. “Um dado que surpreende, porém, é o fato de só 18% das pessoas com cargos mais altos na administração pública terem alfabetização em nível pleno. É pouco, pensando que são pessoas em cargo de referência e tomadores de decisão”, diz Ana Lucia. “São eles que estão planejamento o país de amanhã, mesmo com variáveis comprometidas para arquitetar um planejamento.” Mantendo o perfil tradicional, atividades como trabalhos por conta própria (41%), serviço doméstico (22%) ou pequena produção rural (25%) são as principais ocupações de analfabetos que estejam trabalhando. Entre os desempregados, 13% é analfabeto, enquanto 6% é proficiente. (Exame)