A diferença entre as tarifas cobradas pelas empresas aéreas em uma mesma rota nacional pode ultrapassar os R$ 2.000, mostra levantamento feito pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Os números, referentes a 2016, revelam que, nas rotas em que há pelo menos três companhias operando, é possÃvel economizar em média R$ 231 se o consumidor comparar as tarifas cobradas pelas concorrentes. Em termos percentuais, essa diferença pode chegar a 379% entre a tarifa mais barata e a mais cara nos casos mais extremos. As rotas em que há competição representam 90% de todos os voos nacionais. O voo em que foi registrada a maior diferença de preço, uma média de R$ 2.050 entre a empresa mais cara e a mais barata, foi Navegantes (SC)/Juazeiro do Norte (CE). O passageiro que optou por comprar passagem da TAM pagou mais de R$ 2.500, e quem escolheu a Gol gastou menos de R$ 600, em média. Esse é um voo com baixo tráfego de passageiros, o que ajuda a explicar a diferença. Mas disparidades expressivas podem ser encontradas também em rotas mais concorridas, como os trechos entre Recife (PE) e Fortaleza (CE), com diferenças de mais de R$ 1.000 nos preços. Autor do estudo, o pesquisador Alessandro Oliveira, do Nectar (Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do ITA), lembra que as empresas formam suas tarifas com base principalmente em custos. “Com muitos passageiros, as companhias preenchem mais assentos e tendem a diluir melhor seus custos fixos.” Em outras palavras, com grande frequência e quantidade de passageiros, as companhias aéreas terão menos gastos com suas operações, já que ganham em escala. A tendência é que isso seja repassado para as tarifas. No trecho entre Viracopos (SP) e Uberaba (MG), por exemplo, a Azul, que concentra suas operações no aeroporto do interior paulista, cobrou em média R$ 338 em 2016, R$ 570 menos do que a Gol, a mais cara nesse voo. Para o passageiro que prioriza preços, a garantia para não fazer mau negócio é a comparação das tarifas. Oliveira aponta que um levantamento feito também pelo Nectar mostra que, nas compras feitas com antecedência, as tarifas podem ser até 55% menores. O desconto “se esgota”, no entanto, se a compra for feita mais de 45 dias antes do voo. “Comprar com antecedência excessiva não adianta porque a empresa ainda não começou a elaborar sua polÃtica de tarifas. Ele aponta ainda que em trechos campeões de demanda, nos quais todas possuem muitas frequências, as diferenças tendem a ser menores. Na rota campeã de densidade, Santos Dumont (RJ) e Congonhas (SP), o consumidor pagou em média R$ 75 de diferença entre a passagem mais barata e a mais cara. Quando se olha não apenas o ranking, mas os preços em geral, as companhias aéreas Azul e Avianca, que juntas possuem 30% dos voos domésticos, conseguiram oferecer em 2016 as tarifas mais baixas em apenas 7% e 3%, respectivamente, das rotas nacionais em que há pelo menos três empresas operando. Sem escala para competir com TAM e Gol no quesito preço, as menores vêm focando na oferta de serviços melhores ao passageiro, como comida quente e mais espaço entre as poltronas. A estratégia vem dando certo –em 2011, Azul e TAM juntas possuÃam juntas 12% do mercado, menos da metade do que têm hoje. “A Azul e a Avianca vêm atuando em nichos para atrair passageiros menos sensÃveis a preço, criando uma reputação de melhor produto para o consumidor premium”, diz Oliveira. Paralelamente, em tempos de retração de demanda e na tentativa de manter suas participações de mercado, TAM e Gol cobraram em 2016 os menores preços em 56% e 32%, nessa ordem, das rotas em que há maior competição. As duas maiores companhias aéreas, que hoje têm somadas uma fatia de 69,5% dos voos domésticos, segundo dados da Anac, perderam mercado na comparação com 2011, quando essa participação somada era de 80%. Para tentar amenizar esse movimento, ambas vem derrubando preços. De 2009, ano da entrada da Azul no mercado, a 2016, as tarifas médias das duas grandes caÃram 47,7% e 37%, respectivamente, nos voos nacionais. “Há um tempo essas empresas não estão registrando lucros anuais”, observa Oliveira. “Elas estão evitando perder mais participação de mercado há um tempo, e isso custa rentabilidade”. O levantamento realizado pelo Nectar usa como base dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) referentes a 2016 para preços por companhia e por rota, tipo de recorte disponibilizado pela agência pela primeira vez na Procurada pela reportagem, a Azul afirmou, através de nota enviada por sua assessoria de comunicação, que as tarifas praticadas pela empresa são determinadas por diferentes variáveis. “A Azul esclarece que os preços praticados para as vendas de bilhetes aéreos variam de acordo com uma série de fatores, tais como o trecho em questão, sazonalidade, compra antecipada, combustÃvel [preço do petróleo], disponibilidade de assentos e oferta e demanda.” A TAM afirmou, através de sua assessoria de imprensa, que parou de operar a rota Navegantes/ Juazeiro do Norte no ano passado. A empresa declarou, em posicionamento enviado por sua assessoria, que a Latam, grupo internacional do qual faz parte, adotou uma postura de focar sua estratégia em rotas de elevada demanda. “Parte desta estratégia consiste em concentrar esforços e investimentos somente nas rotas com altas demandas e taxas de ocupação, em busca de rentabilidade.” A companhia destacou ainda que o ano passado foi “muito difÃcil” para as companhias pelo forte recuo de quase 8 milhões de passageiros em relação a 2015. “Esta retração, combinada a um dólar alto e ao aumento de custos por conta da inflação, tiveram um efeito nocivo nos resultados gerais de toda a indústria”, afirmou. A Avianca e a Gol não se pronunciaram sobre o levantamento do Nectar.