O espaço disponível nos aviões que fazem voos domésticos no Brasil é similar ao oferecido por companhias de baixo custo. Essa constatação se baseia em critérios definidos pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Segundo o programa de etiquetagem da agência, 88% dos assentos se enquadram nas categorias “A” e “B”. Isso significa que oferecem, ao menos, uma distância de 71 cm entre as fileiras. Essa é a medida mínima encontrada em voos com duração inferior a seis horas da filipina Cebu Pacific e da americana Frontier, companhias “low cost”. Com o uso de poltronas com encosto fino e vão livre para pernas, cria-se a impressão de bom aproveitamento de espaço. O problema aparece quando o passageiro à frente reclina seu banco ou quando é preciso acomodar uma mochila no local que deveria ser reservado aos pés. É ruim, e deve piorar mundo afora. O incômodo é maior em voos com assentos categoria “C” na classificação da Anac, com distância entre as fileiras de 69 cm a 71 cm. A experiência foi vivida em setembro a bordo do Airbus A319 da Latam, que faz a ligação entre São Paulo e Ilhéus (BA). O vão entre as poltronas é de 69,4 cm. Há três assentos de cada lado, separados por um corredor. Quem embarcou no Grupo 6, último da lista de chamada da companhia, não achou lugar no bagageiro, tendo que alocar malas de mão debaixo do banco da frente. Hoje, a categoria “C” é exceção na Latam. Apenas 20,5% de suas aeronaves se enquadram nessa classe, as demais são “A” ou “B”, segundo a classificação da Anac. A companhia aérea afirma por meio de nota que está investindo o equivalente a R$ 1,65 bilhão para melhorar as cabines de mais de 200 aeronaves que operam voos de longa e curta duração. A reformulação tem também o objetivo de criar lugares extras na classe econômica premium, que, por um preço superior, oferece mais espaço. Porém, é só um pouco melhor que a comodidade disponível no passado. Até o início dos anos 2000, a distância entre as poltronas na classe econômica beirava os 90 cm em voos internacionais. Hoje, a categoria premium oferece por volta de 96 cm, espaço encontrado nos Boeing 777-300 operados por diversas companhias aéreas. Para encaixar um número maior de assentos caros, é preciso espremer as fileiras de baixo custo. Daí surgem soluções radicais, como as poltronas apresentadas em 2018 pela fabricante italiana Avio Interiors. A proposta é fazer os passageiros viajarem quase de pé, com as nádegas apoiadas em um tipo de sela. O encosto não reclina, e a distância entre as fileiras é de 58,4 c m. A empresa já havia exibido um modelo semelhante em 2010, mas nenhuma companhia comprou a ideia. Há também problemas com homologação, devido às exigências de agências regulatórias. O pouco espaço dificultaria a evacuação em uma emergência. Mas, para as empresas que operam com passagens baratas, a conta é simples: para manter a rentabilidade, é preciso colocar o maior número possível de pessoas a bordo. A Cebu Pacific anunciou que pretende instalar 460 assentos em classe única em alguns de seus Airbus A330neo que operam na Ásia. São 20 lugares adicionais à lotação atual. Para que isso seja possível, é necessário mudar a disposição dos banheiros ou mesmo reduzir o número dessas cabines a bordo. Não há determinação oficial de tamanho ou distância para poltronas no Brasil, diz a Anac. A agência nacional de aviação explica que seu trabalho envolve a validação dos espaços mediante aplicação de testes de evacuação da cabine. “O gerenciamento da quantidade de passageiros a bordo é feito conforme a configuração de assentos de cada modelo de aeronave. Também deve ser levado em consideração pelo operador da aeronave o limite máximo de decolagem durante cada voo”, diz a nota da Anac.