A estratégia do ex-prefeito ACM Neto (DEM) de associar a candidatura do senador Jaques Wagner (PT) a governador da Bahia ao passado é, acima de tudo, sábia.
A alternativa posta na mesa pelo PT para o eleitorado baiano representa, de fato, uma saída para o passado pelo menos em alguns sentidos.
Primeiro, porque ela evoca um retorno – e muito breve – ao momento inicial da tomada de poder pelo grupo que comanda hoje o Estado, episódio que, aliás, foi, na época, um marco na história política da Bahia.
Em segundo lugar, também confirma ao mesmo tempo uma ausência de renovação no campo petista e, pela virtual escolha do ex-governador para liderar o processo, o complexo hegemonista do partido.
É como se o PT dissesse que, apesar de liderar uma coalizão ampla, com partidos igualmente fortes e parceiros, é o único com condições de dar curso ao importante projeto de continuidade que interessaria a todos eles.
Não é por acaso que se registram movimentos de discussão sobre o assunto tanto no PSD quanto no PP, onde o vice-governador João Leão e os correligionários mais próximos dele se mostram os mais, digamos, inconformados.
Por este motivo, driblar a acusação ou, embora reconhecendo a condição, mostrar que não significa um atraso deverá se constituir no maior desafio do petista para enfrentar o adversário, que personafica, neste ponto, o seu oposto.
Se as circunstâncias colocam para Neto uma linha clara sobre como deve atingir o concorrente, não indicam ainda, no entanto, como poderá romper a barreira da polarização entre Jair Bolsonaro e Lula da qual Wagner aparece até agora como único beneficiário.
Enquanto o ex-presidente lidera em popularidade na Bahia, beneficiando aqueles que se apresentem como seus representantes no Estado, o atual se mantém em patamares baixos e é uma incógnita em relação à própria melhora eleitoral.
Provocar a discussão sobre a volta ao passado e as eventuais falhas das quatro gestões petistas, iniciadas pelo mesmo Wagner, será suficiente para promover uma regionalização da campanha, descasando-a da sucessão nacional que normalmente impulsiona os pleitos nos Estados?
É mais do que um desafio para Neto.