“Fazer caixa dois no Brasil estava ficando impraticável, uma vez que os controles e órgãos do Estado estavam cada vez mais robustos e por ser tributariamente muito caro.” Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a revelação é do ex-executivo da empreiteira OAS Mateus Coutinho, em depoimento de delação que expõe uma rotina de busca por artifícios dentro da construtora para viabilizar lavagem de dinheiro e pagamentos ilegais para políticos. A OAS é uma das principais empreiteiras do país e enfrenta dificuldades desde que se tornou alvo da Lava Jato, em 2014. Entrou em recuperação judicial em 2015, quando tinha estimados 100 mil colaboradores diretos e indiretos, e hoje tenta firmar um acordo de leniência. Em cerca de 180 páginas de depoimentos obtidas pelo jornal paulista, um grupo de ex-funcionários da empreiteira relata missões em outros países para estruturar o caixa de propinas e uma rotina de reuniões com o topo da hierarquia da construtora para anotar pedidos de repasses, além do dia a dia de burocracias para administrar essa contabilidade paralela. A delação abrange principalmente o período pré-Lava Jato, até 2014 (governos Lula e Dilma Rousseff). Recrutados de áreas como planejamento tributário, em sua maioria de perfil jovem e de carreiras como economistas e contador, eles se identificaram aos investigadores da Lava Jato com ex-ocupantes de cargos como “gerente de caixa dois no Nordeste” ou responsável pela “área internacional de caixa dois”. “Quem detinha poderes para requisição de caixa dois eram os presidentes [da companhia], vice-presidentes, diretores superintendentes, diretores corporativos e líderes”, afirmou Coutinho.