O historiador e professor da Universidade Federal da Bahia, Carlos Zacarias, avalia que a provável derrota “acachapante” do DEM na Bahia terá um impacto na eleição de 2020, quando o prefeito de Salvador, ACM Neto, vai tentar fazer o sucessor.
Segundo pesquisa Ibope divulgada ontem (26), o candidato do DEM, José Ronaldo, tem 10% das intenções de votos contra 61% do governador e postulante à reeleição Rui Costa (PT).
Para o especialista, o DEM “não tem muita margem para crescer por causa das características da candidatura de José Ronaldo”. “[Ele] não tem amplitude estadual. É uma liderança local em Feira de Santana. Também porque se meteu no governo de Michel Temer, que é altamente impopular”, avaliou, em entrevista à Rádio Metrópole.
Para Zacarias, a eventual vitória de Rui traz o PT de volta à disputa na capital baiana. “O PT entra, de novo, na cena política no município de Salvador, já que perdeu as duas últimas eleições para ACM Neto, que se catapultou como uma liderança importante. O DEM colhe agora uma derrota acachapante que põe de volta no plano municipal o PT para disputar a prefeitura de Salvador. Essa derrota do DEM vai certamente impactar na eleição de 2020”, pontuou.
Na opinião do professor, uma eventual derrota do DEM baiano em 2018 será de ACM Neto. “Ele que colhe essa derrota. Foi ele que fez essa aposta e que recuou da iniciativa de concorrer ao governo do Estado. Ele percebeu que era um risco muito grande”, pontuou. “Se [ACM Neto] perder a Prefeitura de Salvador, seus planos realmente vão ficar muito difíceis para 2022. Imagine sem cargo no Executivo e sem nenhum cargo importante, a não ser o de presidente do DEM, que não é importante?”, acrescentou.
O candidato do PSDB ao Planalto, Geraldo Alckmin, foi hostilizado no palco de um evento evangélico na manhã desta quinta-feira (27), em São Paulo. O público da Expocristã o vaiou e gritou o nome de seu adversário Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas.
Diante da adversidade, o tucano fez uma fala conciliatória pedindo orações para o país e foi aplaudido ao final. “A única coisa que peço é a oração de vocês para que Deus ilumine a todos os brasileiros e brasileiras. Feliz a nação cujo Deus é o senhor”, declarou.
A hostilidade começou quando quem discursava era o candidato a governador João Doria (PSDB). Diferentemente de outros oradores, que se referiram a Alckmin apenas como ex-governador, Doria cumprimentou “o próximo presidente Geraldo Alckmin”.
Em ambiente simpático ao capitão reformado do Exército, o público reagiu com gritos do nome de Bolsonaro. Quando o tucano subiu ao palco, instantes depois, foi novamente vaiado.
“O que eu vi aqui foi uma plateia bem divida”, disse Alckmin na saída a jornalistas. “É que você tem um pessoal mais ruidoso.”
Aliado de Bolsonaro, o senador Magno Malta (PR-ES) foi ovacionado efusivamente ao subir ao palco dizendo representar o candidato, ainda internado.
Pastor, Malta discursou contra a chamada ideologia de gênero e foi aplaudido ao definir que “a família tradicional é macho e fêmea, ponto”.
Então mencionou o atentado a Bolsonaro, esfaqueado em Juiz de Fora (MG) no dia 6 de setembro.
“Temos um homem esfaqueado em praça pública. Por quê? Só porque falou essas coisas. ‘Não, mas ele incita a violência…’ Mas não tomou um tiro no peito, tomou uma facada. E agora vão proibir faca nos restaurantes? Nos frigoríficos, nos restaurantes? Vamos tirar as facas de dentro de casa?”, discursou.
Encerrou com o slogan da campanha do PSL, “O Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Doria começou e terminou sua fala com a saudação “a paz de Cristo”. Disse que tem “participado sistematicamente de cultos evangélicos em São Paulo há três anos. Vou porque gosto”.
“Continuem a me convidar, porque eu lá estarei, não na condição de como político, de ex-político, de candidato. Mas de cristão”, pediu.
Emendando na política, Doria incentivou o comparecimento às urnas. “Seja qual for o seu candidato, vote. Vote pelo Brasil.”
Representando o adversário do tucano Márcio França (PSB), a primeira-dama Lúcia França fez um discurso de superação e o poder de Jesus.
O evento foi iniciado com o hino do Brasil e uma oração do apóstolo Estevam Hernandes. Depois das falas políticas, o mestre de cerimônias pediu respeito às diferenças.
A juíza Carmem Lúcia Santos Pinheiro, do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, determinou a busca e apreensão de todo e qualquer material de campanha que apresente o ex-presidente Lula (PT) como candidato a presidente.
A denúncia foi feita pelo prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, em entrevista à Rádio Metrópole.
O petista foi barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após ser condenado em segunda instância, pelo TRF-4, e ser alcançado pela Lei da Ficha Limpa.
Segundo a magistrada, a tiragem de todos os materiais somam mais de dois milhões de panfletos. “O periculum in mora [perigo da demora], de igual sorte, se faz presente, uma vez que a manutenção da propaganda com a divulgação de candidato com o registro indeferido tem potencialidade de gerar dúvida no eleitorado, circunstância que deve ser evitada nesse momento da campanha”, sentenciou Carmem Lúcia.
Na redes sociais em Brumado, assim como em diversos outras cidades, os eleitores do presidenciável Jair Bolsonaro estão organizando uma carreata em apoio a sua candidatura. Na capital do minério, o ato está marcado para acontecer no próximo sábado (29) com concentração a partir das 12:00 horas (meio dia) no Hotel São Lázaro, na Avenida Coronel Santos, no Bairro São Felix saída para Vitória da Conquista. Os organizadores aproveitam para informar ainda que na quinta-feira (27), também acontece na Praça Coronel Zeca Leite (Praça da Prefeitura), um Pit Stop e adesivaço a partir das 18:00 horas. O grupo pede que para a carreata todos compareçam com roupas das cores verde e amarelo.
Os candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) estão empatados entre mulheres segundo a pesquisa de Ibope, publicada na noite desta segunda-feira (24).
Entre as eleitoras, tanto Bolsonaro quanto Haddad têm 21% das intenções de voto. Em seguida está Ciro Gomes, do PDT, com 12%. Geraldo Alckmin (PSDB) tem 9% do eleitorado feminino e Marina Silva (Rede) perdeu um ponto percentual desde a última pesquisa Ibope, ficando com 6%.
A pesquisa ouviu 2.506 eleitores, entre sábado (22) e domingo (23), em 178 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
O candidato do DEM ao governo da Bahia, Zé Ronaldo (DEM), promete, se eleito, recuperar equipamentos culturais, de lazer e espaços para a prática esportiva em todo o estado.
Segundo ele, por onde tem passado, as pessoas se queixam sobre a falta de investimento da atual gestão nessas áreas. “Além de não ter emprego, o baiano também não tem direito ao lazer, que é fundamental para uma vida emocional equilibrada”, critica o democrata, que está em viagem pelo interior.
“Vamos retomar não só os trabalhos de recuperação do Centro Histórico de Salvador, valorizando todas as suas funções, inclusive a residencial, como também o Programa Biblioteca para Todos, fazendo com que a Bahia tenha bibliotecas públicas em todos os seus municípios”, afirma o democrata.
Ele também diz que construirá centros de cultura em cidades de porte médio e reformar e equipar espaços já existentes em Feira de Santana, Alagoinhas, Valença, Jequié, Vitória da Conquista, Guanambi, Porto Seguro e Juazeiro.
Na capital, Zé Ronaldo diz que pretende retomar o projeto de apoio e pesquisa da capoeira, denominado “Forte da Capoeira”, no Forte de Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico, e retomar a reforma do Forte do Barbalho e o Projeto de Residência de Teatro e Dança, que foi chamado “Forte das Artes Cênicas”.
Para o postulante ao Palácio Thomé de Souza, cabe ao Estado fomentar as atividades recreativas e desportivas para a população.
O candidato do MDB à Presidência, Henrique Meirelles, fará campanha em Salvador amanhã (24). O emedebista vai participar de um evento no Fiesta Hotel, na Avenida ACM, a partir de 7h da noite.
Segundo pesquisa Datafolha, Meirelles tem 3% das intenções de votos. O ex-ministro da Fazenda tem dito que sua meta é ultrapassar o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB).
“Sou a alternativa real aos extremistas. Vou fazer em três semanas o que Alckmin não fez em três meses”, cutucou recentemente.
Pela primeira vez com seu próprio partido, a candidata da Rede, Marina Silva, chega a duas semanas do primeiro turno das eleições 2018 com o risco de ter metade – ou menos – dos votos que conquistou nos pleitos anteriores, se a situação que as pesquisas projetam se concretizar. A ex-ministra perdeu metade das intenções de voto que tinha (12% para 6%) e despencou em quase todos os cenários, conforme o mais recente levantamento do Ibope. As explicações, segundo o Estado apurou com a campanha e cientistas políticos, vão da falta de estrutura da Rede até o posicionamento pouco incisivo da candidata. A hipótese mais aventada é a de que Marina é considerada como uma “ótima segunda opção” na hora do voto. Marina não apenas não conseguiu ampliar seu eleitorado como perdeu capital eleitoral e apresenta a segunda maior rejeição dentre os candidatos (26%), atrás só do candidato do PSL, Jair Bolsonaro (42%). O que dificulta uma reação é que a rejeição não está concentrada em um único setor, segue a mesma média em todos. Alfredo Sirkis, ex-coordenador de campanha de Marina em 2010, diz que ela pode ter um papel fundamental no segundo turno. “Seja quem for para o segundo turno, a Marina, como grande líder da sociedade civil, vai jogar um papel importante para derrotar Bolsonaro.” Aliados tendem a diferenciar as dificuldades da candidata nesta eleição da anterior, mas admitem que neste ano a queda é mais preocupante. Há oito anos, sabiam que a probabilidade de ela ser eleita era baixa e que o importante era mostrar uma alternativa à polarização. Já em 2014, além de ela não ter se preparado para ser candidata a presidente, a falta de intimidade com uma estrutura de campanha e de partido (PSB) que não foram feitas para ela teriam afetado seu desempenho.
Em visita a Salvador, capital do maior reduto petista do País, o candidato do PDT à Presidência nas eleições 2018, Ciro Gomes, adotou a tática criticar o PT e poupar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado no âmbito da Operação Lava Jato. O presidenciável petista, Fernando Haddad, e “uma fração amalucada do PT” foram os principais alvos do pedetista, que tenta atrair para sua candidatura o eleitor que rejeita o PT sem perder votos do eleitorado nordestino identificado com o ex-presidente Lula. A estratégia fez com que, em um intervalo de 20 minutos, Ciro afirmasse que o PT tem “o mesmo comportamento dos fascistas” e que era preciso “ter muito cuidado ao tratar do legado de Lula”, sobre quem ele disse ter “apreço, respeito e carinho”. “Dói no meu coração ver o que está acontecendo com o Lula enquanto os aproveitadores do PT estão aí se aproveitando do nome dele”, discursou o pedetista, equilibrando-se no tom do discurso, de cima de um mini trio elétrico. O principal alvo da mira do ex-ministro de Lula foi, porém, o PT. “Infelizmente, há uma fração do PT que é dominada por uma cúpula que perdeu a noção de Brasil, não pensa mais no Brasil, não tem nenhum compromisso com a sorte do nosso povo. Para eles, a política é um fim em si mesmo. Para essa gente, nós temos que enfrentar, assim como temos que enfrentar o mesmo tipo de coisa pela direita, que são os fascistas. É o mesmo comportamento”, afirmou Ciro, a jornalistas, antes de discursar. Ele ainda alfinetou o candidato petista Fernando Haddad ao dizer que “os nordestinos não deveriam votar em quem não conhece o Brasil somente pelo apreço ao ex-presidente Lula”. O candidato do PDT ainda criticou as alianças feitas pelo PT, ao dizer que “Haddad agora está agarrado ao Renan Calheiros em Alagoas e agarrado ao Eunício Oliveira no Ceará”. Renan e Eunício são senadores pelo MDB, partido que apoiou o impeachment de Dilma Rousseff. “Não sou um cara que chegou ontem. Só um petista muito doido e tarado que vai trair minha história. Todas as vezes que Lula precisou de mim eu estava ao lado dele. Agora esse grupo tarado do PT resolveu aperfeiçoar a luta do Bolsonaro, porque, para eles, pode acreditar, é melhor que o Bolsonaro destrua o Brasil, para que eles possam se apresentar novamente com a mentira deles”, atacou, em resposta a jornalistas. Ao dizer que Dilma “desastrou o Brasil”, afirmou em seguida que “ela não é má pessoa”. “Eu ajudei a Dilma também. Foi o único Estado do Brasil, o Ceará, que deu dois terços dos votos contra o impeachment. Eu ajudei contra a tentativa de golpe do mensalão. Eu era o herói do PT. E agora que eu estou tentando construir um caminho para o Brasil, para não ter o Brasil que se subordinar a esse enfrentamento miúdo e odiento que está rachando a sociedade brasileira, não é possível que não tenhamos aprendido nada”, disse ainda. Cerca de 1.500 pessoas, nas contas dos dirigentes do PDT da Bahia, acompanharam o ato político em frente ao Mercado Modelo e ao Elevador Lacerda, dois dos principais pontos turísticos de Salvador. A PM estimou o público em 300 pessoas. O grupo, formado majoritariamente por jovens universitários, chegou a ser maior no início da tarde. No entanto, após mais de três horas de atraso, uma fração dos simpatizantes do pedetista se dispersou. Quando o presidenciável começou a discusar, já passavam das 17h30 e as portas do Mercado Modelo já estavam fechadas, sem movimento turístico.
A equipe de Geraldo Alckmin incluiu na propaganda do tucano na TV uma crítica ao sumiço do guru de Jair Bolsonaro (PSL), o economista Paulo Guedes, a encontros com setores do mercado financeiro. Segundo a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, Guedes deixou de comparecer a compromissos após uma fala dele sobre mudanças no sistema tributário ter vazado à colunista Mônica Bergamo, causando forte polêmica.
Ainda conforme a publicação, a um grupo gestor de grandes fortunas, Guedes tratou da possibilidade de criar um imposto nos moldes da extinta CPMF. A propaganda de Alckmin, que já vinha explorando o tema dizendo que o candidato do PSL quer menos impostos para os ricos e mais para os pobres, incluiu uma provocação a Guedes, que é na peça tucana de “o banqueiro”.
“Na última semana, o banqueiro sumiu de entrevistas e cancelou compromissos em série”, diz o locutor. “Sem plano B para a economia, Bolsonaro faz o brasileiro não ter ideia do que vai acontecer com seu emprego, com sua vida e com o seu futuro.”
Ciente do alarido em torno de Guedes, aliados de Bolsonaro o aconselharam a retomar sua agenda, para não prejudicar o candidato, informou a Folha.
As igrejas históricas, das quais ganham destaque os presbiterianos, batistas e luteranos, têm tradição de não associar seu nome a um candidato em especial. A prática, que protege as instituições e os fiéis de uma prática conhecida como “voto de cajado”, não impede, porém, que os pastores dessas congregações se manifestem sobre suas posições políticas fora dos templos.
A revista Veja entrevistou cinco pastores de igrejas dessas denominações sobre a importância da conscientização política sem o direcionamento do voto dos fiéis: pastor Valdinei Ferreira, 49 anos, líder da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, conhecida como Catedral Evangélica; a pastora Denise Coutinho Gomes, 32 anos, também parte da Catedral Evangélica; pastor Valdir Steuernagel, 68 anos, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; pastor João Haroldo Bertrand, 34 anos, da Igreja Batista da Liberdade, em São Paulo; e pastor Levi Araújo, 55 anos, da Igreja Batista da Água Branca (IBAB).
Para o reverendo Valdinei Ferreira, o uso por políticos de títulos religiosos, como pastor, bispo, missionário, padre, entre outros, é inadequado: “É um erro, confunde o eleitor. Eles chamam para a atividade política uma credibilidade que é oriunda de um espaço religioso que tem outra lógica de relação”, disse.
“A posição protestante histórica não quer um Estado religioso e nem antirreligioso. Cada um deve exercer seu papel, com liberdade. Ouvi um deputado dizer que seu trabalho no Congresso é um ministério. Mas ele está ali como representante público, custeado pela população, que é formada por diversas religiões. Se ele quiser fazer ministério, então abra mão de todos os benefícios e salário que ele tem como deputado, e viva com o que ele recebe da igreja”, comentou.
Esse posicionamento de isenção, no entanto, não inviabiliza a igreja como espaço para discussão política, segundo o pastor, que no ano passado, lançou um manifesto chamado Reforma Brasil, com sete pontos, que vão desde o fim do foro privilegiado e das reeleições até uma revisão dos mecanismos de nomeação para os tribunais e dos custos da representação política. “Não indicamos ‘vote no candidato tal’. Preferimos falar sobre critérios”, acrescentou Ferreira.
Para tentar minimizar a polarização entre esquerda e direita, que tomou o país e se refletiu também entre os membros de sua igreja, Ferreira convidou todos os presidenciáveis palestrar sobre o tema reforma política, em um espaço fora do templo. Alvaro Dias (Podemos) e Marina Silva (Rede) já participaram; João Amoêdo (Novo) confirmou presença, e Jair Bolsonaro (PSL) avaliava o convite, antes de sofrer o atentado em Juiz de Fora.
Amoêdo, Dias e Marina são os candidatos que mais atraem Ferreira: “Falar em quem vou votar não ajuda o candidato. Quem vem à igreja para ouvir o pastor, quer ouvir outro registro, não da influência política”, finalizou.
A pastora Denise Coutinho Gomes tem postura parecida à do colega de ministério: “Entendo que uma pessoa que segue determinada fé deve ser pautada por isso, mas não para promover sua religião ou impor suas ideologias. Creio que uma pessoa guiada por Deus pode fazer nossa nação melhor. E a política deve sim ser parte do cotidiano da igreja, mas como reflexão e não imposição”, pontuou.
Envolvida com as ações sociais da igreja, Denise se preocupa com o trato que o próximo governo dará a essa área: “Vemos pessoas atingidas pelo desemprego, que moram em ocupações ou na rua, que não tem condições de mudar este cenário. É uma situação desumana. Eu gostaria muito de ver o próximo presidente trabalhando por isso, para tentar pelo menos amenizar essa situação que é crônica”, avaliou.
O pastor Valdir Steuernagel compartilha da mesma preocupação. Em Porto Alegre, onde atua, tem visto a importância de se ressaltar a defesa da democracia, da reforma política e de um governo voltado para a prática da justiça social: “Almejo do próximo presidente uma gestão econômica financeira que saiba cuidar dos mais frágeis e vulneráveis, que empenhe-se por diminuir o abismo entre ricos e pobres e reformule o Estado marcado por práticas que beneficiam uns poucos em detrimento da totalidade da nação”, afirmou.
Steuernagel é também vice-presidente da ONG Visão Mundial, que se dedica a ajudar crianças vulneráveis e pessoas em situação de risco. A entidade é presidida pelo pastor Ariovaldo Ramos, que mais recentemente se tornou conhecido como “pastor lulista”.
As preocupações em relação ao perfil dos políticos no Congresso Nacional e a tendência de governos que ameaçam à democracia ao redor do mundo também foram apontadas por Steuernagel: “Qualquer candidato que não afirme a democracia com absoluta firmeza e que questione, ainda que uma fagulha dela como princípio de governo, não é digno do voto”.
“Púlpito e palanque não pertencem um ao outro. Programaticamente falando, eles se excluem. Ou seja, quando eu transformo o púlpito em palanque eu me desautorizo em minha liderança pastoral”, acrescentou o pastor, que se recusa a revelar seu voto. “A polarização desconstrói, exclui, discrimina e ataca o outro. É a construção de um processo de animalização selvagem da vida, no qual o outro precisa ser eliminado. Por isso, como pastor evangélico preciso afirmar que a nossa presente polarização é a negação de uma identidade que se qualifique como sendo cristã”.
O pastor João Haroldo Bertrand comentou na entrevista que sua comunidade também está dividida em relação aos candidatos: “As conversas sobre política ficaram mais acaloradas e com muito espaço para as generalizações. Uma senhora me disse certa vez que apesar da admiração, estava decepcionada comigo porque havia descoberto que eu era ‘petista’. Depois de alguns minutos de conversa, ela percebeu que pensávamos igual em muitas coisas e que o único ano que votei no PT foi em 2002. Dependendo de alguns posicionamentos, somos logo taxados”, comentou.
Porém, o pastor Bertrand acredita ser impossível separar religião de política: “São assuntos que sempre caminharam juntos”, afirmou, que não vê problema que um candidato use princípios de fé em seu discuso, desde que respeite as garantias dos direitos de pessoas que possuam crenças diferentes.
Diferente de outros colegas de ministério, ele revelou sua intenção de voto em Marina Silva (Rede): “Vejo coerência na sua vida pública e no seu discurso, principalmente na maneira como ela se posiciona separando a Igreja do Estado”, disse, revelando, na sequência, sua rejeição a Jair Bolsonaro (PSL). “Ele tem um discurso muito distante do discurso de Jesus. Ódio e preconceito não cabem nas falas do Cristo. Sei que em tempos de incertezas e maldades, um discurso extremista parece trazer consigo uma certa segurança, mas quando olhamos para a história, percebemos que isso nunca funcionou. É uma pena ver tantos cristãos embarcando nessa”.
A postura do pastor Levi Araújo é idêntica. Cabo eleitoral ativo nas redes sociais, ele também exaltou o posicionamento de Marina: “Nós precisamos de uma pausa para poder respirar diante dessa divisão, que tem sido alimentada de uma maneira terrível pelos dois lados. Precisamos de sanidade. De quatro anos para que os partidos façam uma autocrítica, coloquem os pés no chão”, comentou.
Segundo a Veja, Araújo foi uma das pessoas que Marina procurou para se aconselhar quando decidia se sairia ou não como candidata este ano. Araújo contou que a encorajou: “É uma mulher com uma história linda de superação. É forte, firme, ética e pacífica. Que pensa na sustentabilidade, nas gerações futuras. Voto na Marina pensando nos meus netos”. Assim como Araújo, o pastor titular da IBAB, Ed René Kivitz, declarou seu voto em Marina Silva este ano.
“No Brasil é muita gente com pouco e pouca gente com muito. E o pouco que conquistamos no passado está sendo tirado. Então o retrocesso que chega à nossa sociedade agora não é só moral, é um movimento que traz um sucatear de toda a proposta do cuidado social. A democracia não pode ser colocada em risco em nome da economia. Parece que se a economia vai bem a democracia não interessa, os direitos humanos não interessam. Tá bem para quem, cara pálida?”, acrescentou, demonstrando despreocupação com um eventual colapso econômico do país, similar ao que ocorre atualmente na Venezuela.
Por fim, o pastor ressalta que não fez tal escolha pela fé de Marina, que também é evangélica: “Tem uma coisa no meio evangélico conhecido como ‘voto de cajado’. Que é o pastor fechando o rebanho e falando, ‘esse aqui é de Deus e vamos votar nele’. Isso não é correto. A Marina também não segue este viés, o do ‘vote em mim, porque sou cristã’. Não usa o discurso que vai defender a moral cristã. Ela é uma estadista. Não é despachante de igreja, nem despachante de pastor”, concluiu Araújo.
A centralização do embate entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) já no primeiro turno da eleição fez igrejas evangélicas anteciparem uma tomada de lado na disputa.
Conforme a coluna Painel, da Folha, a Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil, que congrega as principais agremiações neopentecostais, decidiu declarar apoio ao capitão reformado. À frente da entidade e da Sara Nossa Terra, o bispo Robson Rodovalho diz que, com “a divisão entre direita e esquerda, não dá mais para ficar em cima do muro”.