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10 de janeiro de 2023
Eleições 2022

‘Eles querem é golpe, e golpe não vai ter’, diz Lula em reunião com governadores

Matheus Teixeira/Renato Machado/João Gabriel/Folhapress

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse a governadores nesta segunda-feira (9) que os militantes golpistas que invadiram as sedes dos Três Poderes não tinham uma pauta de reivindicações e que apenas queriam um “golpe e golpe não vai ter”.

“O que vimos ontem foi coisa que já estava prevista, isso tinha sido anunciado há algum tempo atrás porque pessoas que estavam nas ruas na frente de quarteis não tinham pauta de reivindicação”, afirmou o presidente, na abertura de uma reunião com governadores estaduais e chefes de Poderes. A reunião foi transmitida pela TV Brasil.

“Eles querem é golpe, e golpe não vai ter. Eles têm que aprender que democracia é a coisa mais complicada para a gente fazer, porque exige gente suportar os outros, exige conviver com quem a gente não gosta”, disse aos governadores.

Lula recebeu os chefes dos Executivos estaduais para uma reunião no Palácio do Planalto, um dia após militantes golpistas apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) enfrentarem as forças de segurança e invadirem as sedes dos Três Poderes, deixando um rastro de destruição e vandalismo.

O presidente também o Exército brasileiro que permitiu que os militantes bolsonaristas ocupassem as áreas perto dos quarteis, com reivindicações antidemocráticas. E acrescentou que “nenhum general se moveu para dizer que não pode acontecer isso”.

No domingo (8), militantes golpistas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em um violento ato e ataque contra as instituições democráticas. Eles enfrentaram a Polícia Militar e furaram o cordão de isolamento, para na sequência invadir o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.

O presidente exaltou no início da reunião que os governadores vieram prestar solidariedade, quando normalmente solicitam esses encontros para apresentar reivindicações.

Depois passou a criticar abertamente os manifestantes golpistas. E disse que não houve diálogo, porque os vândalos queriam apenas o “golpe e golpe não vai ter”

“O gesto de vocês é demonstração de que aqui nesse país é possível tudo, é possível discordar, é possível fazer passeata, é possível fazer greve. A única coisa que não é possível é alguém querer acabar com a nossa incipiente democracia que já sofreu com o golpe da presidenta Dilma Rousseff”, disse.

O mandatário depois aproveitou para criticar as Forças Armadas, em particular o Exército. Disse que estava claro para todos que os bolsonaristas apenas tramavam o golpe e mesmo assim permaneceram m áreas militares por dois meses, com a complacência dos comandantes das unidades. Chegou a insinuar que o discurso golpista satisfazia os comandantes.

Disse que durante a ditadura militar pessoas eram presas e torturadas apenas por defender a queda de um governo.

“Agora as pessoas estão livremente reivindicando o golpe na frente dos quarteis. E não foi feito nada por nenhum quartel. Nenhum general se moveu para dizer não pode acontecer isso, qu é proibido pedir isso”, afirmou.

“Dava a impressão que tinha gente que gostava quando o povo estava clamando o golpe”, completou o mandatário.

O presidente voltou a criticar a Polícia Militar do Distrito Federal e disse que a corporação foi conivente com os vandalismos de ontem.

Lula optou por despachar do Palácio do Planalto nesta segunda-feira (9), mesmo com o prédio ainda destruído e passando por trabalho de limpeza e vistoria.

Participaram da reunião os governadores ou representantes dos 26 estados e do Distrito Federal, incluindo os chefes dos Executivos estaduais mais próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL).

Segundo o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), apenas não compareceram e portanto enviaram representantes os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que passou por cirurgia; o de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), que está licenciado; além de Gladson Cameli, do Acre e Mauro Mendes, do Mato Grosso.

Também participaram da reunião ministros do Supremo Tribunal Federal, entre eles a presidente da Corte, a ministra Rosa Weber. O procurador-geral da República, Augusto Aras, também estava presente, assim como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e o presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).

A presidente do STF, Rosa Weber, disse que a corte foi “duramente atacado” e agradeceu pela união “em torno do Brasil que todos queremos, que ´um Brasil de paz, um Brasil fraterno”.

“Na verdade eu estou aqui em nome do STF agradecendo a iniciativa dos governadores e das governadoras de testemunharem a unidade nacional de um Brasil que todos nós queremos no sentido da defesa da nossa democracia e do Estado Democrático de Direito”, disse.

A magistrada também relatou a situação da sede do tribunal.

“O nosso prédio histórico no seu interior foi praticamente destruído, em especial o nosso plenário. Esta simbologia a mim entristeceu de uma maneira enorme, mas eu quero assegurar a todos que vamos reconstruí-lo e que no dia 1 de fevereiro daremos início ao ano Judiciário como se impõe: Poder Judiciário independente e o STF como guardião da nossa Constituição”.

O presidente da Câmara afirmou que a democracia foi fortemente atacada por meio de seus símbolos e ressaltou a importância da união de políticos de diferentes campos no Palácio do Planalto.

“Quero ressaltar e agradecer o apoio à simbologia, a presença e a efetiva ajuda de todos os governadores do brasil nessa união federativa de demonstrar à população brasileira que instituições não pararão”, disse.

Lira ainda disse que assistiu ao ato golpista de sua casa em Alagoas, e que a Câmara “nunca se renderá a vândalos e terroristas”.

“A casa do povo está unida em defesa de medidas duras para esse pequeno grupo radical que hostilizou as instituições e tentou deixar a democracia de cócoras ontem no Brasil”, completou

Helder Barbalho classificou os atos de “terrorismo” e “tentativa de golpe de Estado”.

“Uma causa que nos une, a democracia. Não estamos aqui para defender ideias ou pensamentos de esquerda, de direita, mas para que acima de tudo possamos defender a democracia do país, para que possamos defender as instituições do país”.

Aliado de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas afirmou que a democracia sairá mais forte e será reconstruída, após os ataques dos militantes golpistas bolsonaristas. No entanto, por outro lado, pediu “gestos” dos outros Poderes e entes federados.

“Estou muito feliz de estar participando dessa reunião e enaltecer a capacidade de diálogo. Peço a Deus que nos proporcione sabedoria para que a gente promova a pacificação, lembrando que a pacificação demanda gestos, gestos de todos, do judiciário, do legislativo, do executivo, gestos dos estados”, afirmou o governador de São Paulo.

“A gente tem que aprender a construir gestos para que a gente possa ter desenvolvimento, dignidade, que só serão alcançados por meio do diálogo”, completou.

GOVERNADORA DO DF DEFENDE IBANEIS

A governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, que assumiu após o afastamento de Ibaneis Rocha (MDB) manifestou solidariedade ao presidente Lula e também ao Congresso e ao STF. Afirmou que um novo ato como o de domingo não vai se repetir.

Celina também defendeu Ibaneis Rocha. Disse que ele é um “democrata” e que havia recebido infelizmente informações “equivocadas” e por isso as forças de segurança não conseguiram controlar a situação.