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4 de junho de 2019
Saúde

Pesquisador fala sobre eficiência de canabinoides no tratamento do autismo

Foto: Fabio Seixo

O uso terapêutico de medicamentos à base da cannabis – popularmente conhecida como maconha – tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Hoje, muitos países adotam medidas mais flexíveis para lidar com a erva, e em cerca de 20 países ela já é liberada para fins medicinais. No Brasil, é permitido que não só pessoas com TEA, mas também com outras necessidades, possam fazer uso da medicação legalmente, desde que seja prescrita por um médico e liberada pela Anvisa por meio de relatório. Muitas famílias, contudo, esbarram na burocracia e no alto custo para importar o remédio, que não é produzido de forma regulamentada no país. Em conversa com o bahia.ba, o médico e pesquisador Wellington Briques, Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica (SBMF), falou sobre a eficiência no tratamento com canabinoides. Uma pesquisa feita pela Universidade Ben Gurion e pelo Soroka Medical Center, de Israel, indicou que medicamentos com um dos princípios ativos da erva, melhorou significativamente a qualidade de vida de pacientes portadores de TEA com menos de 18 anos. Ao todo, 188 pacientes foram acompanhados ao longo da pesquisa. Depois de seis meses de tratamento, 83% dos pacientes relataram melhoras significativas ou moderadas em aspectos comportamentais, como melhora do humor, na ansiedade, na concentração e na qualidade do sono. As tarefas cotidianas, como tomar banho e se vestir, também foram realizadas com maior facilidade e o número de pacientes que relatou ter uma boa qualidade de vida mais do que dobrou:

Dr.Wellington, diretor médico LATAM da Canopy Growth, reforça que com o passar do tempo, muitos pacientes submetidos ao tratamento com canabinoides podem abandonar gradativamente outros medicamentos, como ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos, estimulantes e estabilizadores de humor. O TEA não é considerado uma doença, mas sim um transtorno, e o tratamento busca agir nos sintomas específicos, que podem prejudicar a qualidade de vida do portador.

Enquanto a comunidade médica se debruça com estudos sobre o canabidiol e as suas potencialidades, no vasto mundo da web, muitas pessoas defendem uma novidade que promete tratar – e até curar – pacientes com transtorno do espectro autista. É o chamado MMS, ou Solução Mineral Milagrosa, que contém grandes concentrações de clorito de sódio e ácido clorídrico e nenhuma evidência científica que comprove os resultados. Pelo contrário, como afirma o presidente da SBMF, a solução é extremamente nociva ao corpo humano. Ela causa prejuízos ao estômago e pode, inclusive, levar à morte:

“Só pelo nome você já imagina, Solução Mineral Milagrosa […] Ela vai reagir e se transforma em ácido clorídrico, extremamente nocivo ao estômago e podendo levar à morte”, explica o Dr. Wellington.

Ainda alvo de muita controvérsia, o uso medicinal da cannabis precisa ser separado do “uso adulto e recreativo”, de acordo com Wellington Briques. Segundo o médico, ainda falta conhecimento e “educação”, para que possa ser explorado todo o potencial terapêutico da erva. Sobre a descriminalização e regulamentação da maconha, Dr.Wellington defende que para isso há um longo caminho. Ele recorda que, no Canadá, onde no ano passado foi legalizado o consumo recreativo da erva, o uso medicinal foi liberado há 18 anos, em 2001.

No último sábado (1°), milhares de pessoas foram às ruas de todo o Brasil para pedir o fim da “guerra às drogas” na “Marcha da Maconha” – a primeira do governo Bolsonaro. O ato ocorreu na maior parte das capitais e principais cidades do país. Mas, para os defensores da flexibilização na lei atual, a decisão do ministro Dias Toffoli na semana passada serviu como um “balde de água fria”. O projeto de descriminalização que seria discutido em junho, foi retirada de pauta, em razão da mudança de posicionamento do governo sobre o tema.

No mês passado, foi aprovado um projeto de lei defendido pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, que prevê internação involuntária, fortalece as comunidades terapêuticas e amplia pena imposta a traficantes. O líder da pasta também desqualificou publicamente uma pesquisa feita pela Fiocruz, que não comprovou uma “epidemia” de drogas no país.