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21 de maio de 2021
Religião

Líder espiritual muçulmano mais jovem do Brasil é de Vitória da Conquista

Tirando a pouca idade de 22 anos, o jeitão do teólogo Abdullah se encaixa no imaginário do que se espera de um líder espiritual: é estudioso e profundo conhecedor dos ensinamentos de sua fé; tem linguagem gestual pausada, seu tom de voz é tranquilo, quase monocórdio; trata seus interlocutores com formalidade e deferência, durante as entrevistas, se dirigiu à repórter sempre pelo pronome de tratamento “senhora”.

Abdullah é o imã (ou imam, em árabe), como são chamados os líderes espirituais da religião islâmica, mais jovem do Brasil, função que assumiu em 2017, aos 19 anos, na Mesquita Sumayyah Bint Khayyat. O fato de a mesquita ficar dentro da favela da Guaiçara, no Jardim Cultura Física, em Embu das Artes (SP) e ter sido criada pelo líder comunitário e cultural César Kaab, 47, um dos precursores do movimento hip hop nas quebradas de São Paulo e muçulmano inspirado em Malcolm X, dá contornos ainda mais interessantes à sua trajetória. Baiano de Vitória da Conquista, ele tinha um mês de vida quando se mudou para Santa Isabel, na Região Metropolitana de São Paulo.

De família humilde e sem instrução, seu pai é pedreiro e sua mãe, costureira, Abdullah, cujo nome de registro é Antônio Marcos Souza (não há problema em chamá-lo dessa forma), conta que tanto sua personalidade introspectiva quanto sua paixão pela leitura vêm desde a infância. Na adolescência, chegou a ganhar um prêmio pela quantidade de livros que emprestava da biblioteca da escola. Foi lá, no penúltimo ano do ensino médio, que encontrou “Os conflitos do Oriente Médio”, de François Massoulie, obra que o apresentou ao mundo árabe. “É um livro sobre história, não sobre religião ou Islam. Gostei muito e li o glossário para ver as referências. Fui para a internet, escrevi ‘oração islâmica’ e fiquei interessado. ‘O que será isso?’, diz Antônio.

No ano seguinte, se mudou com o pai e o irmão para outra cidade do interior de São Paulo, São José do Rio Pardo, para morar com a avó. Releu várias vezes o livro de Massoulie, que ganhou do amigo Marcos Aurélio, 23, também rato de biblioteca, parceiro de leituras na escola e na recém-descoberta do islam.